O papel do educador social
O educador social desempenha um papel importante junto dos sujeitos com os quais interage, pois dele depende uma integração social positiva nos contextos em que vivem. O seu trabalho, orientado por critérios de competência profissional baseada em metodologias e técnicas orientadas para uma prática social de intervenção, corresponde, no dizer da Carvalho e Baptista (2004), a um espaço profissional desenhado no ponto de encontro, e de cruzamento, entre a área de trabalho social e da área da educação (p. 83). A sua relação com os outros deve pautar-se por comportamentos de respeito e de combate a todas as situações discriminatórias, trabalhando, no dizer de Diaz (2006) para uma socialização terciária (…) ou seja, o processo mediante o qual se pretende que um indivíduo se reintegre na sociedade depois de ter revelado condutas anti-sociais, associais o dissociais (p. 100), visando a inclusão plena dos diversos atores sociais. Segundo Borda Cardoso (s/d) a definição do papel profissional do Educador Social passa pelo tipo de desempenho que dele se espera, do que ele sabe e é capaz de fazer no quadro das competências para que foi preparado e das respostas emergentes aos desafios laborais (p. 8). Para Noguero e Solís (2003) o objetivo final das ações do educador social é conseguir a participação de todos os membros do grupo com o fim de transformar a realidade. (…) supõe a criação de um processo de ensino – aprendizagem de uma série de valores, atitudes e estratégias que estejam de acordo com o espírito crítico, a participação ativa, a transformação social, etc. (p.6). Ao procurar consolidar e renovar as redes sociais já existentes, pode, também, criar novas redes de espaços de pertença e referência afetiva, atuando de forma direta, mas sem tomar partido ou dar a solução. Deve escutar, estar atento, conduzir as respostas dos verdadeiros protagonistas, criando, no dizer de Carvalho e Baptista (2004), a chamada distância óptima, que conjuga racionalidade com sensibilidade e serenidade (p. 93). Na criação de pontes entre o indivíduo, a família, as instituições e a sociedade em geral, em áreas que vão desde lares da terceira idade, às escolas, prisões, hospitais e autarquias, ele desempenha o papel de um interlocutor privilegiado, apontando caminhos para a solução de problemas vividos e sentidos nos contextos em que intervém.
Para Noguero e Solís (2003) o educador social marca a forma de trabalho no grupo, proporcionando ferramentas necessárias (atitudes, valores, capacidades, motivação, etc.) para que a autonomia do mesmo cresça progressivamente (…) (p. 7). A sua figura tem um caráter “eventual” no tempo de vida do grupo com o qual trabalha e, por conseguinte, trata de facilitar em todo o momento que o grupo aprenda e adquira os meios necessários para uma autogestão individual e coletiva (p. 7). Carvalho e Baptista (2004) referem quão difícil é conciliar num mesmo ator o desempenho simultâneo de papéis, pois consideram o educador social como um prático, porque é pragmático e concreto, como um militante, dado ser um idealista que luta pelas suas convicções e como um especialista, porque é um prospetivo que balança entre o militante e o prático (p. 84). Esta relação não pode ser conflitual, mas complementar. Além de tutor é também um mentor, companheiro que assegurará um desenvolvimento harmonioso de uma identidade pessoal e profissional com base na maturação decorrente de um autêntico encaminhamento identitário (p. 87), ouvinte, conselheiro, disponível, dialogante, amigo institucional. Referem-no, ainda, como um actor social, porque vive a complexidade da vida em sociedade, enquanto protagonista de um determinado contexto social e histórico-geográfico, como um educador porque procura viabilizar a escolha dos seus projetos, como um mediador social, porque resulta da dinâmica entre o ator e o educador, presente e distante, empreendedor, gestor de conflitos interpessoais e intergrupais, que, sem serem tomados como indivíduos providenciais, ajudam a procurar caminhos pessoais, promovendo a capacidade de decisão e de participação dos indivíduos ao mesmo tempo que são integrados em redes sociais que possam apoiar o processo de reconstrução das respectivas identidades (p. 92).
Os educadores são, (…) promotores privilegiados da condição humana e é nesse sentido, justamente, que são reconhecidos como técnicos da relação, o que torna esse seu carácter técnico irredutível a qualquer lógica instrumental. Enquadrada por uma perspectiva pedagógica, a relação humana surge-nos sempre mais do que uma simples ferramenta (Carvalho e Baptista, 2004, pp. 95-96).
O educador social é tido como uma referência, pois não está em causa apenas o saber mas
o próprio educador como pessoa, com os seus medos, as suas angústias, as suas incertezas, as suas dúvidas, as suas convicções, as suas verdades e os seus sonhos e é esta amálgama de
sentimentos que lhe confere um papel determinante em todo o processo pedagógico. A sua
intervenção acontece num espaço pedagógico subjetivo que o compromete com a promoção
da cidadania e se pauta por valores éticos, enfrentando situações profissionais de conflito ou
de dilema, sempre analisados numa atitude reflexiva.
Não se pode escamotear que o papel do educador social tem sido objeto de auto e
heterorreflexão que passa por um(a):
- processo lento e recente da configuração profissional das incumbências;
- dificuldade na partilha de funções com outras profissões da mesma área; já existentes
ou apenas emergentes;
- reservas quanto ao esboço de acções sistemáticas em prol de uma intervenção
educativa não escolar;
- peso de uma tradição voluntarista e benévola, entretanto, em crise;
- instabilidade epistemológica no terreno da fundamentação científica dos respectivos
saberes e práticas (Carvalho e Baptista, 2004, p. 85).
A sua atuação assenta em modelos e princípios que evoluem com o tempo. Carvalho e
Baptista (2004) falam-nos do modelo tutelar, do período caritativo, até 1965, que coloca o amor
pelo outro como determinante na educação, sendo o educador uma figura familiar com
autoridade e com sérios riscos de criar uma dependência, do modelo técnico, do período
científico de 1965 a 1990, que apela ao rigor científico porque tem em conta a subjetividade do
modelo anterior e o modelo reflexivo, a partir de 1990, em que o educador problematiza a
complexa realidade das situações, impondo-se de forma autónoma e responsável, de acordo
com os problemas que se lhe deparam (p. 103).
Mas, em todos os momentos, é preciso respeitar os outros aplicando, no dizer de Carvalho
e Baptista (2004), os princípios da liberdade, para nós e para os outros, da emancipação, atuando
com independência, da verdade, cultivando a verdade e a autenticidade do valor da vida na
relação com os outros, do autodesenvolvimento, onde o bem - estar físico, mental e social de todos
é fundamental e da privacidade no respeito pela integridade do ser humano (p. 103).
Carvalho, A. D e Baptista, I. (2004). Educação Social – Fundamentos e estratégias. Porto: Porto
Editora.
Carneiro, R. (2000). |O Futuro da Educação em Portugal. Rendências e Oportunidades. Lisboa:
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Borda Cardoso, A. M. A. S. (s/d). Alguns desafios que se colocam à Educação Social. Escola Superior
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esepf.pt/bitstream/handle/…/Cad_3Educacaosocial.pdf?. (Acedido em 2 de
Outubro de 2011).
Bottega, C. G. e Melro, A. R. C. (2010). Prazer e sofrimento no trabalho dos educadores
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http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
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Diaz, Soriano (2006). Uma Aproximação à Pedagogia - Educação Social Revista Lusófona de
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Gerson, Heidrich da Silva (2009). Educador social: uma identidade a caminho da profissionalização?
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.35, n.3, p. 479-493,
http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=29812452005. (Acedido
em 2 de Outubro de 2011).
#OrgulhoDeSerEducadorSocial
ResponderEliminarO Brasil hoje tem Curso Superior Tecnológico de Educador(a) Social e de Educação Social em Universidades Particulares, precisamos dos Cursos de Educação Social em Universidades Públicas.
ResponderEliminarFórum Nacional dos Educadores Sociais, trabalha pela aprovação do Projeto de Lei nº 2941 de 2019, que Regulamenta a Profissão de Educador (a) Social no Brasil.
ResponderEliminarParabéns pelo excelente texto sobre o Profissional Educador (a) Social.
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