terça-feira, 29 de maio de 2018

Sem educação, os homens vão matar-se uns aos outros.

O neurocientista António Damásio advertiu que é necessário “educar massivamente as pessoas para que aceitem os outros”, porque “se não houver educação massiva, os seres humanos vão matar-se uns aos outros”.
O neurocientista português falou no lançamento do seu novo livro A Estranha Ordem das Coisas, na Escola Secundária António Damásio, em Lisboa, onde ele defendeu perante um auditório cheio que é preciso educarmo-nos para contrariar os nossos instintos mais básicos, que nos impelem a pensar primeiro na nossa sobrevivência.
“O que eu quero é proteger-me a mim, aos meus e à minha família. E os outros que se tramem. […] É preciso suplantar uma biologia muito forte”, disse o neurocientista, associando este comportamento a situações como as que têm levado a um discurso anti-imigração e à ascensão de partidos neonazis de nacionalismo xenófobo, como os casos recentes da Alemanha e da Áustria. Para António Damásio, a forma de combater estes fenômenos “é educar maciçamente as pessoas para que aceitem os outros”.
Em ” A Estranha Ordem das Coisas”(editora: Temas e Debates), Damásio volta a falar da importância dos sentimentos, como a dor, o sofrimento ou o prazer antecipado.
“Este livro é uma continuação de O Erro de Descartes, 22 anos mais tarde. Em ‘O Erro de Descartes’ havia uma série de direções que apontavam para este novo livro, mas não tinha dados para o suportar”, explicou António Damásio, referindo-se ao famoso livro que, nos finais da década de 90, veio demonstrar como a ausência de emoções pode prejudicar a racionalidade.
O autor referiu que aquilo que fomos sentindo ao longo de séculos fez de nós o que somos hoje, ou seja, os sentimentos definiram a nossa cultura. António Damásio disse que o que distingue os seres humanos dos restantes animais é a cultura: “Depois da linguagem verbal, há qualquer coisa muito maior que é a grande epopeia cultural que estamos a construir há cem mil anos.”
O neurocientista acredita que o sentimento – que trata como “o elefante que está no meio da sala e de quem ninguém fala” – tem um papel único no aparecimento das culturas. “Os grande motivadores das culturas atuais foram as condições que levaram à dor e ao sofrimento, que levaram as pessoas a ter que fazer alguma coisa que cancelasse a dor e o sofrimento”, acrescentou António Damásio.
“Os sentimentos, aquilo que sentimos, são o resultado de ver uma pessoa que se ama, ou ouvir uma peça musical ou ter um magnífico repasto num restaurante. Todas essas coisas nos provocam emoções e sentimentos. Essa vida emocional e sentimental que temos como pano de fundo da nossa vida são as provocadoras da nossa cultura.”
No livro o autor desce ao nível da célula para explicar que até os microrganismos mais básicos se organizam para sobreviverem. Perante uma plateia com centenas de alunos, o investigador lembrou que as bactérias não têm sistema nervoso nem mente mas “sabem que uma outra bactéria é prima, irmã ou que não faz parte da família”.
Perante uma ameaça, como um antibiótico, “as bactérias têm de trabalhar solidariamente”, explicou, acrescentando que, se a maioria das bactérias trabalha em prol do mesmo fim, também há bactérias que não trabalham. “Quando as bactérias (trabalhadoras) se apercebem que há bactérias vira-casaca, viram-lhes as costas”, concluiu o neurocientista, sublinhando que estas reações são ao nível de algo que possui “uma só célula, não tem mente e não tem uma intenção”, ou seja, “nada disto tem a ver com consciência”.
E é perante esta evidência que o investigador conclui que “há uma coleção de comportamentos – de conflito ou de cooperação – que é a base fundamental e estrutural de vida”.

Durante o lançamento do livro, o investigador usou o exemplo da Catalunha para criticar quem defende que o problema é uma abordagem emocional e não racional: “O problema é ter mais emoções negativas do que positivas, não é ter emoções.”
“O centro do livro está nos afetos. A inteira realidade dos sentimentos e a ciência dos sentimentos e do que está por baixo dos sentimentos. O sentimento é a personagem central. É também central uma coisa que me preocupa muito, o presente estado da cultura humana. Que é terrível. Temos o sentimento de que não está apenas a desmoronar-se, como está a desmoronar-se outra vez e de que devemos perder as esperanças visto que da última vez que tivemos tragédias globais nada aprendemos. O mínimo que podemos concluir é que fomos demasiado complacentes, e acreditamos, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, que haveria um caminho certo, uma tendência para o desenvolvimento humano a par da prosperidade. Durante um tempo, acreditamos que assim era e havia sinais disso
https://www.revistaprosaversoearte.com/sem-educacao-os-homens-vao-matar-se-uns-aos-outros-diz-neurocientista-antonio-damasio/

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Academias do Conhecimento - Gulbenkian - Concurso/ Desafio

Fundação vai destinar 10 milhões de euros, durante cinco anos, para um programa dedicado ao conhecimento. Parte deste investimento irá para associações ou colectivos que se proponham a desenvolver as competências sociais e emocionais de crianças e jovens. Darão origem às Academias do Conhecimento.


Uma previsão do Fórum Económico Mundial diz que quatro em cada cinco crianças que entram hoje na escola terão empregos que ainda não existem. Não sendo possível prepará-las com base num currículo para um conteúdo que nem sequer existe, como se faz? Trabalhando-lhes a resiliência, o pensamento crítico, a capacidade de organizar, construir e discernir. 


A resposta é da Fundação Calouste Gulbenkian que vai apoiar associações, colectivos e autarquias com 2,5 milhões de euros nos próximos cinco anos para que desenvolvam este tipo de competências nos mais novos. Para os preparar para o Futuro. Para isso, a fundação vai abrir candidaturas (a partir de 17 de Maio) para organizações da sociedade civil. As instituições com as melhores propostas vão receber formação e mentoria, transformando-se naquilo a que a Gulbenkian chama “Academias do Conhecimento”. 

No prazo de cinco anos, a fundação quer chegar a 100 associações, 10 mil crianças e jovens até aos 25 anos e trabalhar com eles o pensamento crítico, a capacidade de “resolver problemas complexos em climas de grande incerteza”, o trabalho em equipa, a resiliência, a superação da frustração e a capacidade de lidar com a mudança. 
Em suma, as chamadas soft skills, enumera Pedro Cunha, director-adjunto do programa que chancela as academias, o Gulbenkian Conhecimento.
A maior certeza que temos quanto ao emprego do futuro é que tudo vai mudar. E a única forma de nos prepararmos é reforçando as competências que melhor nos habilitam para esse futuro que é desconhecido”, sublinha o gestor de projetos.
Há dados que o comprovam: de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, metade dos postos de trabalho actuais na Europa estão em risco devido à automação e 40% das competências-chave do futuro não são as mesmas de hoje, fez notar o Banco Mundial.
O gestor de projectos desconstrói também a ideia de que estas competências são inatas. 
“Vivemos com a crença, que não tem validade científica, de que a personalidade não se desenvolve. Mas estudos comprovam que estas características não só se desenvolvem como podem superar o impacto que limitações cognitivas ou determinantes socioeconómicos têm no sucesso de alguém”, afirma Pedro Cunha. Quer com isto dizer que um jovem com grande capacidade de comunicação, resiliente, que reage bem à mudança pode ser mais bem-sucedido do que outro com quociente de inteligência superior ou com origem num meio económico mais favorecido.
A Gulbenkian procura, desta forma, complementar o trabalho das escolas, nunca substituí-lo. As academias assentam na ideia de que a educação não é uma competência exclusiva do sistema educativo formal. E, para além de serem “uma aposta nos jovens, são uma forma de valorizar e reconhecer o tecido social português”, acredita o gestor de projectos. “A investigação demonstra que estas associações, que fazem um trabalho muitas vezes silencioso, desenvolvem as competências que hoje mais valorizadas são no mercado."


Como concorrer às Academias do Conhecimento
Quem pode concorrer?
O projecto dirige-se a organizações sem fins lucrativos que actuam junto de crianças e jovens até aos 25 anos. Podem ser associações, colectividades, clubes desportivos, escolas de músicas, escuteiros, ou consórcios de associações, juntas de freguesia e câmaras municipais. Há também espaço para as escolas que, em parceria com organismos locais, “queiram ir além do currículo puro e duro”.
Como vão funcionar?
As Academias do Conhecimento destinam-se a promover em crianças e jovens competênciais sociais e emocionais. E isso pode acontecer em dois moldes. Ou com uma metodologia própria ou utilizando uma validada cientificamente, sendo que para esta primeira edição a Gulbenkian identificou quatro métodos. Um destina-se ao desenvolvimento de competências sociais em crianças até aos quatro anos; outro promove em jovens a partir dos dez anos a capacidade de estabelecer um objectivo e persegui-lo de forma organizada; um outro modelo visa a produção do pensamento criativo, através da resolução de desafios, desde o ensino básico ou superior; e existe ainda que metodologia ensina os jovens a identificar problemas, encontrar soluções e concretizá-las.
Cada um destes métodos tem, em Portugal, uma entidade responsável que fará a formação dos profissionais, a mentoria e a avaliação dos projectos: a Universidade de Coimbra, a Universidade do Minho, o Torrance Center e a Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa.A expectativa da fundação é validar cientificamente os novos métodos que surjam deste trabalho.
Qual o financiamento?
Há 2,5 milhões de euros para cinco anos. Cada projecto, que deve durar entre dois a três anos, pode receber até 30 mil euros (até 60% do custo total).
Qual o prazo de candidaturas?
Nesta primeira edição as candidaturas estão disponíveis de 17 de Maio a 11 de Junho e podem ser feitas no site das Academias Gulbenkian do Conhecimento (que estará disponível a partir de dia 17).
Quantas vagas há?
Todos os anos, durante cinco anos, abrirão candidaturas. Não há vagas limitadas.
Importa, por isso, chegar a elas. A fundação assume que quer sair de Lisboa e apoiar no processo de candidatura. “Queremos dar a vez às organizações do Portugal real. E aí não existem especialistas em candidaturas e são quase todos voluntários.” Por isso, numa primeira fase pede-se apenas “uma ideia muito genérica” do projecto. A fundação dá depois consultoria para que as autoras das melhores ideias construam uma candidatura que venha a ser aprovada pela Gulbenkian. “Vamos apoiar as melhores ideias, não as candidaturas tecnicamente melhores”, reforça Pedro Cunha.
10 milhões de euros
Este é um dos quatro eixos de acção – e o primeiro a arrancar – no âmbito de um programa maior, que a fundação assume como um dos seus maiores projectos dos últimos anos. Sucede ao Inovar em Saúde. E surge da percepção de que a sociedade está “encantada com a tecnologia”, mas “desvaloriza o homem por detrás da máquina”. O que leva a Gulbenkian a disponibilizar um total de 10 milhões de euros para “investir naquilo que faz de nós humanos, onde nunca teremos competição das máquinas”, sustenta Pedro Cunha.
Para além das academias, o Gulbenkian Conhecimento terá oficinas (concursos de ideias), desafios (dando continuidade ao projecto que propõe a adopção de mudanças comportamentais com vista à melhoria dos sistemas, como é exemplo a iniciativa Stop Infecção Hospitalar) e um laboratório de conhecimento, que assenta na ideia de que "o amanhã é para pensar hoje".
Este é um programa que, aos olhos da Gulbenkian, marca uma mudança de rumo: o afastar dos meios institucionais de poder com que tinha vindo a trabalhar, para se aproximar da sociedade civil e procurando tornar-se “numa instituição relevante para os jovens”.
https://www.publico.pt/2018/05/14/sociedade/noticia/gulbenkian-tem-25-milhoes-de-euros-para-chegar-as-organizacoes-do-portugal-real-1829662

terça-feira, 8 de maio de 2018

Educação e cidadania



Fernando Savater, filósofo espanhol, reflete sobre a relação entre educação e cidadania em sua conferência ao Fronteiras do Pensamento. Segundo Savater, o papel da educação não é apenas treinar habilidades e processos, é também “formar pessoas completas, capazes de utilizar a democracia de uma maneira crítica e positiva”. O filósofo defende, ao longo de sua fala, a importância desta educação para que as pessoas saibam construir seus caminhos de vida, compreender seus papeis na democracia e exercitar seus deveres para com a sociedade. Conferencista do Fronteiras do Pensamento 2015. 

Fronteiras do Pensamento | Produção Telos Cultural | Conferência Edgar Morin | Edição Karina Roman | Finalização Marcelo Allgayer | Tradução Francesco Settineri e Marina Waquil



Os educadores são, (…) promotores privilegiados da condição humana e é nesse sentido, justamente, que são reconhecidos como técnicos da relação, o que torna esse seu carácter técnico irredutível a qualquer lógica instrumental. Enquadrada por uma perspectiva pedagógica, a relação humana surge-nos sempre mais do que uma simples ferramenta (Carvalho e Baptista, 2004, pp. 95-96). 


Para Noguero e Solís (2003) o educador social marca a forma de trabalho no grupo, proporcionando ferramentas necessárias (atitudes, valores, capacidades, motivação, etc.) para que a autonomia do mesmo cresça progressivamente (…) (p. 7). A sua figura tem um caráter “eventual” no tempo de vida do grupo com o qual trabalha e, por conseguinte, trata de facilitar em todo o momento que o grupo aprenda e adquira os meios necessários para uma autogestão individual e coletiva (p. 7).



"O Educador Social caracteriza-se pela enorme capacidade de percepcionar a realidade, reflectir, adaptar-se às dificuldades e encontrar saídas possíveis para os múltiplos problemas de âmbito social. Por isso, a sua formação profissional é ser rigorosa articulando o conhecimento, a formação pedagógica reflectida com uma cultura actual e crítica, fundamental à leitura e compreensão do mundo, à capacidade de orientação e decisão que, a cada momento, terá de tomar. 
O seu perfil, estruturado pelos saberes ser, estar e fazer, confere-lhe um conjunto de competências que o tornam capaz de agir técnica e pedagogicamente, com sensibilidade social e ética.



Subjacente aos seus modelos de intervenção está a cultura pedagógica destes profissionais (…)



terça-feira, 1 de maio de 2018

Encontro da Licenciatura em Educação 26 de maio 2018


  • Pontos importantes do IV Encontro da Licenciatura em Educação
  •  A aplicabilidade do curso (saídas profissionais)
  • Necessidade de esclarecer o Ministério quanto às valências da Licenciatura em Educação.
  • Foi notória a vivacidade do corpo docente, alunos e ex alunos.



http://portal.uab.pt/noticias/iv-encontro-da-licenciatura-em-educacao/
No próximo dia 26 de maio, tem lugar, no Museu das Comunicações, em Lisboa, o IV Encontro da Licenciatura em Educação, um curso criado há 10 anos na Universidade Aberta que conta com um grande número de estudantes que trabalham em áreas profissionais muito diversificadas.
O evento que reúne uma centena de participantes oriundos de vários pontos do país, visa construir um espaço de partilha, colaboração e discussão em torno de temas como a empregabilidade do profissional da ciência da educação, aspetos políticos, tendências e inovação.
A sessão será transmitida online e inclui uma palestra, uma mesa-redonda, a apresentação de e-posters e um workshop.


Fotos do IV Encontro da Licenciatura em Educação
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.2153219934914566.1073741870.100006797403496&type=1&l=af1d80b664