sábado, 16 de dezembro de 2017

16 crianças e quatro seniores na mesma sala de aulas


Projecto internacional Sachi2, coordenado em Portugal pelo Porto4Ageing, da Universidade do Porto, está a testar o impacto de projectos de educação intergeracionais. Juntando seniores e juniores, destroem-se estereótipos sobre a velhice. E a aprendizagem acontece.

















Há um ditado popular capaz de deixar Teresa Martins com os nervos em franja. Nele, escondem-se preconceitos alimentados há anos e desrespeito por legislação básica. Quando ouve dizer que “burro velho não aprende línguas”, a educadora social põe-se a reflectir sobre discriminação e pensa na Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Se os direitos lá contemplados não têm uma idade para terminar, porque é que o direito à educação parece chegar ao fim a partir de certa altura?”. A conversa decorre minutos depois de mais uma sessão do Sachi2 (Sharing Childhood 2), um projecto intergeracional que está a decorrer em quatro países (Portugal, Espanha, Escócia e Polónia) e é financiado pelo Erasmus +. Nele, seniores e crianças partilham salas de aula e mundos distintos — e ambos ganham com isso.



Por cá, o projecto piloto chegou ao terreno em Outubro. Mas anda a ganhar forma há coisa de um ano, quando oPorto4Ageing, Centro de Excelência em Envelhecimento Activo e Saudável da Universidade do Porto, começou o trabalho de investigação. Uma das (muitas) formas de discriminação das pessoas mais velhas é a falta de oportunidades. E na educação, aponta Teresa Martins, técnica do projecto, isso é gritante: “É como se este grupo deixasse de ter interesse”. Para quem nunca reflectiu sobre o assunto, Teresa sugere um exercício simples: já repararam que, com excepção de projectos como a universidade sénior, se fala de educação para adultos apenas na vida activa? Por que razão o conhecimento não é promovido para lá disso?



Octávio Coelho passa às apresentações. “Sou o mais novo do grupo. Tenho 49, mas ao contrário”, diz com ar desafiador para logo de seguida se deixar levar pelo sonho: “O que eu gostava mesmo era de ainda ter 14, para aproveitar mais a vida.” O comandante da Marinha é um dos quatro seniores que integram o projecto piloto que junta alunos do Colégio Luso Internacional do Porto (CLIP) com idosos do Centro de Apoio Social do Porto – Instituto de Acção Social das Forças Armadas.

Na pasta de couro que leva para as aulas, focadas na língua inglesa, guarda todas as fichas, exercícios realizados, apontamentos. No lar onde vive, não deixa de fazer os trabalhos de casa. Quando ali chegou sabia dizer thank you e pouco mais. E agora? “I like you very much”, responde. E mais: “kiss me, my darling”. Não é um conhecimento monotemático. Octávio Coelho aprendeu os números, a perguntar o nome e algumas saudações, decorou os meses e os dias da semana. E, mais importante do que isso, recebeu doses renovadas de ânimo.


A aula vai a meio quando a professora Dina Sameiro anuncia o “mini workshop” que Octávio vai ministrar: como fazer nós? O comandante distribui um cordão por cada aluno e logo começa. Poucos segundos e já está: “O primeiro chama-se lais de guia.” E perante a confusão instalada recorre à teoria da relatividade: “Isto é bem mais fácil do que inglês”, sorri. Mas à medida que a complexidade dos nós aumenta as desistências vão acontecendo: “Tenha paciência, Octávio, isto é bem mais difícil do que inglês”, conclui sorridente a professora.

"Isto assim não atrofia"
Graça Capela, 86 anos, anda encantada com aquelas sessões. Em menina aprendeu apenas francês — e num sistema de outros tempos: “Tínhamos um dicionário de português-francês e um de francês-português e aprendíamos assim, palavra por palavra”, recorda. “Já não me lembro de nada.” Quando a Universidade do Porto desafiou Isabel Varandas, assistente social do instituto onde vive, a integrar aquele projecto e o convite se arrastou a Graça ela não teve qualquer dúvida. “Hiperactiva” por natureza, amante de pintura e escultura, achou fantástica a ideia de ter as portas abertas mais vezes. “O contacto com as crianças é inspirador.” E as aulas, acrescenta o coronel José Matias, são uma forma de “afastar a rotina, abrir o espírito, treinar a memória”. Ou, como diz Graça com um gesto a apontar para a cabeça, de manter a sanidade: “Isto assim não atrofia.”



São 16 os alunos do CLIP que partilham a sala de aula com eles. As mesas estão dispostas em pequenas ilhas, num arquipélago de quatro, cada uma com um sénior e vários meninos e meninas com dez e onze anos. Não são só portugueses: há chineses, brasileiros, um sul africano. E isso tornou o desafio ainda mais interessante, salienta Dina Sameiro: havia alunos lusos que dominavam minimamente o inglês, alunos estrangeiros que só falavam inglês e idosos que sabiam pouco da língua inglesa. “Muitas vezes os portugueses tinham de traduzir para que todos se entendessem.”

É o que se vai passando na ilha onde está Silvina Casinhas, 70 anos cumpridos. A aula é sobre celebrações e fala-se de aniversários: como celebram as crianças e como celebravam os mais velhos quando tinham a idade deles? “A primeira vez que festejei os meus anos foi aos 12, com um bolinho”, diz Silvina perante o olhar de espanto das crianças. “Como assim? Mas antes não celebrava?!”, questiona-a Matilde, dez anos, ao mesmo tempo que vai traduzindo a conversa no seu melhor inglês a Bo, aluno chinês também com dez anos. “Como é que é possível? Eu festejo todos os meses!”

A distância entre os dois mundos é enorme. “A muitos destes alunos nunca passou pela cabeça a ideia de falta de conforto. Vivem numa bolha”, aponta a professora. Há umas semanas, depois de uma aula onde se falou sobre a escola no tempo dos seniores e na de hoje, muitas das crianças mostraram-se chocadas com uma história contada por Octávio Coelho: na primária dele, não havia janelas. “Não lhes passava pela cabeça que as coisas fossem tão diferente”, aponta José Matias, 65 anos. “Não imaginam, por exemplo, a vida sem telemóvel e internet.”



Para novo ninguém vai...
Os ganhos — e a aprendizagem cultural — são, portanto, válidos para os dois lados. Até porque o envelhecimento é um tema que deve interessar a todos, recorda Teresa Martins a recorrer-se de uma verdade La Palice: “Todos somos mais velhos hoje do que éramos ontem”. Antes de o projecto piloto estar a funcionar, foi feito um questionário a seniores e juniores — para, no final, serem reavaliadas as representações de uns e outros.

Para já, os questionários vão apontando no sentido da existência de preconceito e discriminação. Os mais velhos, resume a educadora social, são frequentemente infantilizados, tratados como se fossem menos capazes, vítimas de maus tratos, de negligência. Muitas vezes deixam de controlar o próprio dinheiro, perdem autonomia. É o chamado idadismo, explica Teresa Martins, o preconceito e discriminação com base na idade.

“É uma realidade e é preciso falar sobre isto”, apela. Para quebrar estereótipos sobre a forma de viver a velhice, a equipa do Porto4Ageing tem, para já, duas turmas em funcionamento: a do CLIP e uma na Santa Casa da Misericórdia. Em Janeiro, arranca outro grupo, também na Santa Casa. O objectivo final é alargar ainda mais, inclusive a escolas públicas (que não conseguiram responder em tempo útil para entrar na fase inicial do projecto). E “recolher evidências científicas” de que a educação intergeracional tem “impacto”. Octávio, José, Silvina, Graça e os alunos do CLIP já deram o seu parecer.













http://p3.publico.pt/actualidade/educacao/25151/o-que-fazem-16-criancas-e-quatro-seniores-na-mesma-sala-de-aulas?page=%2F&pos=14&b=stories_b

domingo, 10 de dezembro de 2017

O verdadeiro papel da educação – Edgar Morin

A educação deve ser um despertar para a filosofia, para a literatura, para a música, para as artes. É isso que preenche a vida. Esse é o seu verdadeiro papel.”
O filósofo francês Edgar Morin fala sobre um dos temas que o tornou uma influência mundial, a educação. Morin fala sobre a necessidade de estimular o questionamento das crianças, sobre reforma no ensino e sobre a importância da reflexão filosófica não tanto para que respostas sejam encontradas, mas para fomentar a investigação e a pluralidade de possíveis caminhos. Leia abaixo:
O senhor costuma comparar o nosso planeta a uma nave espacial, em que a economia, a ciência, a tecnologia e a política seriam os motores, que atualmente estão danificados. Qual o papel da educação nessa espaçonave?
Ela teria a função de trazer a compreensão e fazer as ligações necessárias para esse sistema funcionar bem. Uso o verbo no condicional porque acho que ela ainda não desempenha esse papel. O problema é que nessa nave os relacionamentos são muito ruins. Desde o convívio entre pais e filhos, cheio de brigas, até as relações internacionais — basta ver o número de guerras que temos. Por isso é preciso lutar para a melhoria dessas relações.




O que é preciso mudar no ensino para que o nosso planeta, ou a nave, entre em órbita?
Um dos principais objetivos da educação é ensinar valores. E esses são incorporados pela criança desde muito cedo. É preciso mostrar a ela como compreender a si mesma para que possa compreender os outros e a humanidade em geral. Os jovens têm de conhecer as particularidades do ser humano e o papel dele na era planetária que vivemos. Por isso a educação ainda não está fazendo sua parte. O sistema educacional não incorpora essas discussões e, pior, fragmenta a realidade, simplifica o complexo, separa o que é inseparável, ignora a multiplicidade e a diversidade.
O senhor então é contra a divisão do saber em várias disciplinas?
As disciplinas como estão estruturadas só servem para isolar os objetos do seu meio e isolar partes de um todo. Eliminam a desordem e as contradições existentes, para dar uma falsa sensação de arrumação. A educação deveria romper com isso mostrando as correlações entre os saberes, a complexidade da vida e dos problemas que hoje existem. Caso contrário, será sempre ineficiente e insuficiente para os cidadãos do futuro.
Na prática, de que forma a compreensão e a condição humana podem estar presentes em um currículo?
Ora, as dúvidas que uma criança tem são praticamente as mesmas dos adultos e dos filósofos. Quem somos, de onde viemos e para que estamos aqui? Tentar responder a essas questões, com certeza, vai instigar a curiosidade dos pequenos e permitir que eles comecem a se localizar no seu espaço, na comunidade, no mundo e a perceber a correlação dos saberes.
Mas uma pergunta como “quem somos?” não é fácil de responder.
E não precisa ser respondida. É a investigação e a pluralidade de possíveis caminhos que tornam o assunto interessante. Podemos ir pelo social, somos indivíduos, pertencentes a determinadas famílias, que estão em certa sociedade, dentro de um mundo que tem passado, história. Todos temos um jeito de ser, um perfil psicológico que também dá outras informações sobre essa questão. Mas também somos seres feitos de células vivas, entramos na biologia—, que são formadas por moléculas,— temos então a química. Todas essas moléculas são constituídas por átomos que vieram de explosões estelares ocorridas há milhões de anos… E assim por diante. Sempre instigando a curiosidade e não a matando, como frequentemente faz a escola.

Como temas tão profundos podem ser tratados sem que a aula fique chata?
É só não deixar enjoativo o que é por natureza passional. Um jornal francês de literatura fez uma pesquisa entre os alunos e descobriu que até os 14 anos os jovens gostam de ler e lêem muito. Quando vão para o liceu, lêem menos. É verdade que eles começam a sair mais de casa e ter outros interesses, mas um dos principais motivos é que os professores tornam a literatura chata, decupando-a em partes pequenas e analisando minuciosamente o seu vocabulário, em vez de dar mais valor ao sentido do texto, à sua ação. Nada mais passional do que um romance, nada tão maravilhoso quanto a poesia! Nada retrata melhor a problemática humana do que as grandes obras literárias. Os saberes não devem assassinar a curiosidade. A educação deve ser um despertar para a filosofia, para a literatura, para a música, para as artes. É isso que preenche a vida. Esse é o seu verdadeiro papel.


A literatura e as artes deveriam ter mais destaque no ensino?
Sem dúvida. Elas poderiam se constituir em eixos transdisciplinares. Pegue-se Guerra e Paz, de Tolstói, por exemplo. O professor de Literatura pode pedir a seu colega de História para ajudá-lo a situar a obra na história da Rússia. Pode solicitar a um psicólogo, da escola ou não, que converse com a classe sobre as características psicológicas dos personagens e as relações entre eles; a um sociólogo que ajude na compreensão da organização social da época. Toda grande obra de literatura tem a sua dimensão histórica, psicológica, social, filosófica e cada um desses aspectos traz esclarecimentos e informações importantes para o estudante. Todo país tem suas grandes obras e certamente também os clássicos universais servem para esse fim.
O professor deve buscar sempre o trabalho interdisciplinar?
Ele deve ter consciência da importância de sua disciplina, mas precisa perceber também que, com a iluminação de outros olhares, vai ficar muito mais interessante. O professor pode procurar ter essa cultura menos especializada, enquanto não existir uma mudança na formação e na organização dos saberes. O professor de Literatura precisa conhecer um pouco de história e de psicologia, assim como o de Matemática e o de Física necessitam de uma formação literária. Hoje existe um abismo entre as humanidades e as ciências, o que é grave para as duas. Somente uma comunicação entre elas vai propiciar o nascimento de uma nova cultura, e essa, sim, deverá perpassar a formação de todos os profissionais.

Como o professor vai aprender a trabalhar de forma conjunta?
Ele vai se autoformar quando começar a escutar os alunos, que são os porta-vozes de nossa época. Se há desinteresse da classe, ele precisa saber o porquê. É dessa postura de diálogo que as novas necessidades de ensino vão surgir. Ao professor cabe atendê-las.
Como acontece uma grande reforma educacional?
Nenhuma mudança é feita de uma só vez. Não adianta um ministro querer revolucionar a escola se os espíritos não estiverem preparados. A reforma vai começar por uma minoria que sente necessidade de mudar. É preciso começar por experiências pilotos, em uma sala de aula, uma escola ou uma universidade em que novas técnicas e metodologias sejam utilizadas e onde os saberes necessários para uma educação do futuro componham o currículo. Teríamos, desde o começo da escolarização, temas como a compreensão humana; a época planetária, em que se buscaria entender o nosso tempo, nossos dilemas e nossos desafios; o estudo da condição humana em seus aspectos biológicos, físicos, culturais, sociais e psíquicos. Dessa forma começaríamos a progredir e finalmente a mudar.
Como tratar temas tão profundos como o estudo da condição humana nos diversos níveis de ensino?
Os professores polivalentes da escola primária são os ideais para tratar desses assuntos. Por não serem especialistas, têm uma visão mais ampla dos saberes. Eles podem partir da problemática do estudante e fazer um programa de ensino cheio de questões que partissem do ser humano. O polivalente pode mostrar aos pequenos como se produz a cultura da televisão e do videogame na qual eles estão imersos desde muito cedo. Já a escola que trabalha com os jovens deve dedicar-se à aprendizagem do diálogo entre as culturas humanísticas e científicas. É o momento ideal para o aluno conhecer a história de sua nação, situar-se no futuro de seu continente e da humanidade. Às universidades caberia a reforma do pensamento, para permitir o uso integral da inteligência.
Fonte: revista Nova Escola | Fronteiras do Pensamento

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

A utilidade do inútil




O livro A Utilidade do Inútil, publicado pela Kalandraka, foi traduzido para 20 línguas, está em 30 países e já vendeu mais de 200 mil exemplares. Neste, o professor italiano da Universidade de Calabria, filósofo e especialista na obra de Giordano Bruno, critica a lógica do lucro que chegou ao mundo do ensino e da investigação e propõe uma reflexão sobre quais são os verdadeiros saberes que podem ajudar a sair da crise.



A utilidade do inútil Um manifesto Nuccio Ordine Não é verdade – nem mesmo em tempos de crise – que só é útil o que produz lucro ou tem uma finalidade prática. Existem saberes considerados “inúteis” que são indispensáveis para o crescimento da humanidade. Útil, portanto, é tudo aquilo que nos ajuda a sermos melhores e melhorarmos o mundo. Sucesso de crítica e de público, traduzido para mais de 15 idiomas, A utilidade do inútil mostra como a lógica utilitarista e o culto da posse acabam por murchar o espírito das pessoas, pondo em perigo não só a cultura, a criatividade e as instituições de ensino, mas valores fundamentais como a dignidade humana, o amor e a verdade. Para respaldar e fortalecer essa discussão, o italiano Nuccio Ordine constrói um mosaico de citações de grandes filósofos e escritores, uma espécie de manifesto abaixo-assinado por Platão, Montaigne, Kant, Shakespeare, Victor Hugo, Cervantes, Dickens, Baudelaire, García Lorca, Stevenson, Calvino, García Márquez, David Foster Wallace... Completa o livro um ensaio do famoso educador americano Abraham Flexner, inédito em português, que prova como também as ciências exatas nos ensinam a utilidade do inútil. Numa época onde cortes no orçamento de cultura, privatização de pesquisas e fechamento de livrarias são questões frequentes em diversos países, a obra é um rico material para repensarmos o valor da arte, da poesia, da curiosidade e dos saberes sem aplicações práticas ou usos comerciais. NUCCIO ORDINE é professor de literatura italiana na Universidade da Calábria, e atua como membro ou professor visitante em diversas universidades e institutos de pesquisa de prestígio nos EUA e na Europa. Com livros traduzidos para mais de 15 idiomas, dirige coleções de clássicos na Itália e na França e colabora com o jornal Corriere della Sera. É doutor honoris causa da UFRGS e um dos principais estudiosos da obra de Giordano Bruno, sobre quem escreveu A cabala do asno (2006) e O umbral da sombra (2009).


https://www.youtube.com/watch?v=1WSKJIMyS6U


Esse é o grande problema da contemporaneidade: temos gente super especializada e que perdeu o sentido geral e global do saber. Hoje as escolas e as universidades preparam os alunos para seguirem uma especialização e isso é muito perigoso. Estas devem proporcionar uma cultura geral. Einstein já dizia que a especialização mata a curiosidade e esta está na base do avanço da ciência e da tecnologia. Por exemplo, a actual directora do CERN [o laboratório europeu de física de partículas] é uma italiana [Fabiola Gianotti] que fez estudos clássicos no liceu, aprendeu piano durante dez anos, mas é uma grande física. Os maiores arquitectos italianos, como Renzo Piano, fizeram estudos clássicos. Portanto é preciso ter uma cultura geral de base.


https://www.youtube.com/watch?v=bVBrccbHetc

O que é preciso mudar no ensino?
"O meu livro é um grito de alarme. Quando pergunto aos meus alunos por que estão na universidade, respondem-me que é para obter um diploma. Um diploma não serve para nada! Há uma visão utilitarista da educação que mata a ideia de escola. Vamos à escola para sermos pessoas cultas! Para sermos pessoas melhores, para sermos éticos, não importa o curso."
Na apresentação do meu livro, viajei de Norte a Sul de Itália e os estudantes diziam-me: “Professor, adoro os gregos e os latinos, mas os meus pais perguntam-me ‘o que vais fazer com literatura? Porque não te inscreves num curso onde possas vir a ganhar dinheiro?’ Isto é a corrupção da ideia do que deve ser a universidade! É corromper os estudantes. Temos médicos que o são porque ganham muito dinheiro e não por razões humanitárias e não pelo que prometem no juramento de Hipócrates. Esta corrupção – a ideia de ganhar muito dinheiro – atravessa a sociedade inteira, chega à política, à economia. Por isso temos corrupção no mundo inteiro.
Costumo ler uma história belíssima de Kavafis [poeta grego, 1863-1933] sobre Ítaca, a história de Ulisses, que diz que a experiência da viagem é que fará de ti um homem rico, fará de ti um homem melhor. Se não fizeres essa experiência, de nada te servirá chegar a Ítaca.

O que isso significa?
Significa que devemos estudar por amor ao conhecimento, por amor à aprendizagem, para que sejamos homens e mulheres livres. Os alunos têm de compreender que não há saber sem conhecimento e que só se é livre se formos sábios. E isso não têm nada a ver com o mercado e com aquilo que este pede.

No seu livro critica as universidades-empresa.
Contesto a ideia de que as universidades sejam empresas. A nossa missão não deve ser vender diplomas que os estudantes compram. Isso é uma enorme corrupção. A escola não pode ser uma empresa porque a lógica da educação não é a do mercado. O princípio da educação é aprender a ser melhor, para si mesmo e não para o mercado. O que vemos na City em Londres [no centro financeiro britânico] são pessoas com elasticidade mental, pessoas que vêm dos estudos clássicos ou da filosofia porque compreendem melhor o mundo do que os especialistas em economia ou programação.




As consequências da Declaração de Bolonha, que veio alterar a forma como o ensino superior está organizado, são negativas?

Bolonha foi muito dura para o futuro do ensino. Há coisas graves, a começar no léxico, as palavras não são neutras, têm significado, e quando as primeiras palavras que os alunos aprendem, quando chegam ao ensino superior, é “créditos” e “débitos”, impomos uma lógica da economia no ensino. As universidades recebem financiamento consoante os seus resultados, quanto mais alunos com sucesso, mais financiamento recebem, e assim baixa-se o nível para todos passarem. Ninguém vai avaliar a qualidade, só a quantidade. Deixa-se de financiar as pesquisas de base, mas se não fossem essas não seria possível fazer ciência. As grandes revoluções são fruto de pesquisas de base. Por isso, é preciso redireccionar as coisas porque o inútil de hoje pode ser o útil de amanhã.


Que modelo de escola é que defende?
Costumo contar aos meus alunos que Albert Camus, quando ganhou o Nobel da Literatura, fez duas coisas: escreveu uma carta à sua mãe e uma ao seu professor da escola média [3.º ciclo do básico], Louis Germain. Foi ele que o incentivou a continuar a estudar, porque Camus era bom aluno, embora pobre. Camus agradeceu ao seu professor tudo o que fez por ele. É essa a escola que quero! Uma escola em que o professor e o aluno estejam no centro e os professores não estejam soterrados em burocracias. Os professores perderam a paciência para ensinar e a paciência tem de estar no centro da pedagogia.



E os pais? O que podem fazer para criar seres humanos mais completos: dar um computador ou um smartphone ou levar os filhos ao teatro ou a um concerto?
Comprar o computador e levá-los ao teatro, a ler poesia, a ouvir um concerto porque tudo isso pode mudar a vida de uma pessoa. A música pode fazer milagres, como pode a ciência. O poder libertado do utilitarismo pode tornar a humanidade mais humana.









terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Michael Jackson - Curar o mundo



https://www.youtube.com/watch?v=BWf-eARnf6U

Michael Jackson - Curar o mundo
Há um lugar no seu coração
E eu sei que é amor
E este lugar poderia ser muito
Mais brilhante do que amanhã
E se você realmente tentar
Você encontrará que não há necessidade de chorar
Neste lugar você sentirá
Não há dor ou tristeza
Há maneiras de chegar lá
Se você se preocupa o suficiente com a vida
Faça um pequeno espaço
Fazer um lugar melhor
Curar o mundo
Torná-lo um lugar melhor
Para ti e para mim
E toda a raça humana
Há pessoas morrendo
Se você se preocupa o suficiente com a vida
Torná-lo um lugar melhor
Para ti e para mim
Se você quer saber por que
Há amor que não pode mentir
Amor é forte
Só se preocupa com dar alegria
Se tentarmos, veremos
Nesta felicidade, não podemos sentir
Medo de medo
Paramos de existir e começamos a viver
Parece que sempre
O amor é suficiente para nós crescer
Então, faça um mundo melhor
Fazer um lugar melhor
Curar o mundo
Torná-lo um lugar melhor
Para ti e para mim
E toda a raça humana
Há pessoas morrendo
Se você se preocupa o suficiente com a vida
Faça um lugar melhor para você e para mim
E o sonho em que fomos concebidos
Vai revelar um rosto alegre
E o mundo em que uma vez acreditamos
Vai brilhar novamente em graça
Então, por que continuamos estrangulando a vida
Feriu essa terra, crucifica sua alma
Embora seja fácil ver
Este mundo é celestial
Seja o brilho de Deus
Podemos voar tão alto
Deixe nossos espíritos nunca morrerem
No meu coração, sinto que você é todos meus irmãos
Crie um mundo sem medo
Juntos lloramos lágrimas felizes
Veja as nações transformarem suas espadas em arados
Nós poderíamos realmente chegar lá
Se você se importasse o suficiente para viver
Faça um pequeno espaço
Para fazer um lugar melhor
Curar o mundo
Torná-lo um lugar melhor
Para ti e para mim
E toda a raça humana
Há pessoas morrendo
Se você se preocupa o suficiente com a vida
Faça um lugar melhor para você e para mim
Há pessoas morrendo
Se você se preocupa o suficiente com a vida
Faça um lugar melhor para você e para mim
Você e para mim


Psicologia do Desenvolvimento - Jean Piaget e Vygostky



https://www.youtube.com/watch?v=rWSmmYtryDI

Jean Piaget
Piaget estuda paralelamente o desenvolvimento cognitivo, o julgamento moral e a linguagem e consegue perceber a relação entre as estruturas cognitivas e o desenvolvimento social.
Nos estágios do desenvolvimento psíquico, Piaget distinguiu aspectos diferenciados, aos quais relacionamos: as funções de conhecimento, que são responsáveis pelo conhecimento que se tem do mundo e que incluem o pensamento; as funções de representação, que incluem todas as funções graças as quais representamos um significado qualquer, usando um significante determinado; e as funções afetivas, que constituem para Piaget, o motor do desenvolvimento cognitivo.
O desenvolvimento dessas funções, segundo Piaget , é marcado por períodos que preparam o individuo para o estágio seguinte.
Os estágios do desenvolvimento cognitivo são:
  • Estágio Sensório-Motor: que representa a conquista do universo pratico, através da percepção e dos movimentos.
  • Estágio Pré-Operatório: que é uma preparação e organização das operações concretas; a criança volta-se para a realidade e surge o aparecimento da linguagem.
  • Estágio Operatório: as ações são interiorizadas e se constituem operações, o que construía no plano da ação, agora consegue reconstruir no campo da representação, é neste estádio que a criança é capaz de cooperar.
  • Estágio de Operações Formais: que distingue entre o real e o possível.

Lev Semenovich Vygotsky
Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas.
Segundo a tradição marxista, Vygotsky considera que as mudanças que ocorrem em cada um de nós tem sua raiz na sociedade e na cultura.
A relação do individuo com o mundo está sempre mediado pelo outro.Para fazer a mediação, o homem também se utiliza de instrumentos, como por exemplo o machado para o lenhador.
No campo psicológico, o homem também se utiliza de instrumentos, só que agora chamados de “signos” que por sua vez também são por Vygotsky chamados de “instrumentos psicológicos”.
O signo é uma marca externa que auxilia o homem em tarefas que exigem memória ou atenção. Ex: fazer uma lista de compras por escrito.
Com o tempo, a utilização de marcas externas vai dar lugar a processos internos de mediação, chamados de processo de internalização.
As possibilidades de operação mental não constituem uma relação direta com o mundo real fisicamente presente; a relação é mediada pelos signos internalizados que representam os elementos do mundo, libertando o homem da necessidade de interação concreta com os objetos de seu pensamento.
Um dos instrumentos básicos que temos é a linguagem, onde Vygotsky trabalha com duas funções básicas: intercâmbio social- criação e utilização de sistemas de linguagem : que o homem utiliza para se comunicar com os seus semelhantes; e o pensamento generalizante, onde a linguagem ordena o real, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos, sob uma mesma categoria conceitual.
Antes de o pensamento e a linguagem se associarem, existe, uma fase pré-verbal e uma fase pré-intelectual. Após, os processos de desenvolvimento do pensamento e da linguagem se unem, surgindo assim o pensamento verbal e a linguagem intelectual. Podemos ainda dizer que é no significado da palavra que o pensamento e a fala se unem em pensamento verbal, mas não podemos nos esquecer que os significados continuam a ser transformados durante todo o desenvolvimento do individuo.
Deste modo é a função generalizante da linguagem que a torna um instrumento do pensamento.
A partir das concepções descritas acima, Vygotsky construiu o conceito de zona de desenvolvimento proximal, que é a distancia entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas pela criança, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela solução de problemas sob a orientação de um adulto, ou em colaboração com companheiros.
Concluímos assim dizendo, que para Vygotsky, as relações entre aprendizagem e desenvolvimento são indissociáveis.


Diferenças teóricas entre Piaget e Vygotsky
Comparando a teoria de Piaget e a de Vygotsky, poderemos notar as diferenças existentes entre elas.
Entre estas diferenças podemos destacar que a teoria de Piaget é construtivista, com ênfase no papel estruturante do sujeito, e também que Piaget reformou em bases funcionais as questões sobre pensamentos e linguagem. Por ser ao mesmo tempo pensador e cientista experimental, a Piaget interessava uma visão transformadora da epistemologia.
Apesar de a teoria de Vygotsky também apresentar um aspecto construtivista , seria na medida em que busca explicar o aparecimento de inovações e mudanças no desenvolvimento a partir do mecanismo de internalização.
Por outro lado, Vygotsky enfatiza o aspecto interacionista, pois considera que é no plano intersubjetivo, isto é, na troca entre as pessoas, que tem origem as funções mentais superiores, que são mecanismos psicológicos complexos, que envolvem controle consciente de comportamento, ação intencional e liberdade do individuo em relação às características do presente momento.
A teoria de Piaget também apresenta a dimensão interacionista, mas sua ênfase é colocada na interação do sujeito com o objeto físico, onde a criança observando este objeto ela vai aprender a afirmar unicamente o que ela percebe, a distinguir o que é real do que é produto da imaginação e conseqüência da afetividade, que influencia seu juízo; e, além disso, não está clara em sua teoria a função da interação social no processo de conhecimento.
Para Piaget, a criança se apodera de um conhecimento se “agir” sobre ele, pois aprender é modificar, descobrir, inventar.

Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. A relação do individuo com o mundo está sempre mediado pelo outro. Este processo de mediação ou melhor dizendo os mediadores sempre vai estar entre o homem e o mundo real, estes mediadores são : Instrumentos e Signos.
Os estudos de Vygotsky sobre a aquisição de linguagem como fator histórico e social enfatizam a importância da interação e da informação lingüística para a construção do conhecimento. O centro do trabalho passa a ser, então, o uso e a funcionalidade da linguagem, o discurso e as condições de produção.
Já para Piaget o desenvolvimento cognitivo se dá pela assimilação do objeto de conhecimento a estruturas anteriores presentes no sujeito e pela acomodação dessas estruturas em função do que vai ser assimilado. A adaptação – que envolve a assimilação e a acomodação numa relação indissociável – é o mecanismo que permite ao homem não só transformar os elementos assimilados, tornando-os parte da estrutura do organismo, como possibilitar o ajuste e a acomodação deste organismo aos elementos incorporados. Quando o campo afetivo está afetado a adaptação não acontece, à criança assimila, pode até acomodar, mas a adaptação vai estar cortada.


Outro fator desenvolvido na teoria de Piaget é a maturação, onde acreditava-se que o desenvolvimento estivesse predeterminado e, o seu afloramento, vinculado apenas a uma questão de tempo.
Por sua vez Vygotsky criticou severamente este fator, pois acreditava que o desenvolvimento tinha sua origem nas capacidades humanas.
Outra divergência que notamos claramente é a respeito da fala egocêntrica. Enquanto que para Piaget é uma transição entre estados mentais individuais não verbais, de um lado, e o discurso socializado e o pensamento lógico de outro. Para Vygotsky está claramente associada ao pensamento e indica que a trajetória da criança vai dos processos socializados para os processos internos.
Desta forma, podemos dizer que para Vygotsky, o desenvolvimento é um processo que se da de fora para dentro, já para Piaget, o desenvolvimento se da de dentro para fora.

Bibliografia:
GOULART, Íris B. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. Ed. Vozes, 12º ed. , 1997.
OLIVEIRA, Marta K. Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento, um processo sócio-histórico. Ed. Scipione, 1993.
BOCK, Ana M. B.; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria L.T.- Psicologias: Uma Introdução ao estudo de Psicologia. Ed. Saraiva, 1992.