Existe, mas somente a partir dos 3 ou 4 anos de idade. Especialistas explicam que, antes disso, é comum que os pequenos utilizem comportamentos agressivos simplesmente por estarem em desenvolvimento e não dominarem outras formas de expressão.
Até os dois anos de idade, as crianças estão a descobrir o mundo através dos sentidos e procuram levar tudo à boca. Morder um colega, portanto, não é uma atitude violenta, e sim um reflexo natural.
Mesmo que realizados intencionalmente – em uma disputa pela atenção do professor ou dos pais, na tentativa de conseguir um brinquedo, motivos de stress comuns nessa faixa etária – outros fatores que definem o bullying não se manifestam.
Não há um alvo constante nem uma discrepância na relação de poder entre as crianças.
É claro que o adulto presente deve desencorajar a briga e mostrar formas de resolver conflitos através da linguagem; ao mesmo tempo, deve-se tomar cuidado para não supervalorizar a agressão e punir muito rigidamente os envolvidos, pois eles não compreendem que estão a magoar alguém.
É apenas depois dos 3 anos que as crianças desenvolvem a socialização e o senso de “outros” – as pessoas ao seu redor não são mais todas iguais e elas começam a criar laços de amizade, formar grupos e mostrar afinidade com certos colegas. Consequentemente, é na mesma época que surgem os primeiros casos de discriminação, implicâncias e humilhações. A partir de então, elas já têm noção dos sentimentos alheios e podem ferir outras crianças intencionalmente.
Como identificar o bullying?
Os apelidos e palavras ofensivas permanentemente são a forma mais comum de bullying (mais da metade dos casos entra nessa categoria). Características físicas são reconhecidas e colocadas como rótulos: gordo, magro, baixinho, quatro-olhos, e assim por diante. Outras particularidades, como o atraso no desenvolvimento – quando uma das crianças não consegue realizar certas tarefas tão bem quanto seus pares -, também desencadeiam bullying. É o que acontece quando a turma repara que apenas um dos colegas não sabe comer sozinho, segurar o xixi ou amarrar os sapatos, e resolve lembrá-lo disso com frequência por meio de piadinhas.
Deve-se estar atento ainda à exclusão. As "panelinhas" estão se formando e certos alunos podem ficar de fora, sem possibilidade de se adaptar ou integrar. Violência física e fofocas são outras formas de bullying, mas menos comuns na Educação Infantil.
Caso as atitudes não sejam apanhadas em flagrante, há sinais de que uma criança pode estar sofrendo com o bullying: relutância em ir para a escola, queda de desempenho ou até mesmo regressão na aprendizagem, ansiedade ou medo de ficar junto aos colegas, se manifestar ou deixar a companhia dos adultos, súbita agressividade e queda da autoestima. É bastante usual que ela não admita o acontecido justamente por se achar de alguma forma merecedora das represálias dos colegas (entenda: ela também identifica em si mesma o “problema” que está causando as implicâncias, e vê isso como justificativa).
Quais os motivos do bullying?
É essencial que o professor preste atenção e identifique essas atitudes o quanto antes. A seguir, é preciso identificar se o comportamento se qualifica mesmo como bullying ou não passa de uma fase, engatilhada por outros acontecimentos na vida pessoal das crianças. Procure conhecer a dinâmica familiar de cada aluno – as agressões podem ser resultado de:
- Cobranças e expectativas muito altas dos adultos em sua vida – a criança é exigida demais, colocada em muitas atividades extracurriculares, criticada com frequência e pouco elogiada. Isso pode levá-la a ter baixa autoestima, sentindo sempre ser incapaz de alcançar o que é esperado dela;
- Falta de limites e mimos em excesso – muitas vezes, pais e mães querem compensar a ausência durante a semana com uma permissividade excessiva ou comprando presentes sempre que a criança manifesta qualquer desejo. Assim, as crianças não aprendem a lidar com limitações, frustrações ou com terem suas ideias contrariadas;
- Problemas de desenvolvimento cognitivo ou emocional, dificuldades de relacionamento ou experiências traumáticas, como agressão ou abuso .