terça-feira, 8 de março de 2016

“Viva Para O Bem Que Você Possa Fazer” – Uma Reflexão De Mário Sérgio Cortella


Se hoje temos condições tecnológicas, técnicas, científicas e cognitivas para uma sociedade com abundância, não tê-la é uma questão de escolha. Fazer a formação de pessoas para que consigam entender o sucesso individual, a partir da referência da abundância coletiva, é decisivo. Obviamente, não estou fazendo apologia a miséria, mas falando de partilha.

Nessa concepção, a atividade de formação, seja na escola, seja na família, seja na mídia, tem como fundamento ético não relegar a compaixão a um plano secundário. Eu não sou livre quando acaba a liberdade do outro.

Compaixão é essa percepção, que poderia ser chamada de fraternidade também. Nós estamos na mesma confraria, isto é, nós convivemos. No nosso condomínio, na nossa morada, é preciso ser justo. […]
Nós educadores e educadoras, especialmente na escola, temos de ser capazes de formar crianças e jovens, de modo que essa percepção não seja apenas um discurso. Ela se dá pelo contato com a realidade. Por exemplo, algumas escolas e algumas redes deixaram de fazer algo fazer algo que era relativamente frequente há 30 ou 40 anos, quando promoviam o contato com  realidades cruéis. Não pelo prazer mórbido de mostrá-las, mas algumas escolas públicas e privadas organizavam visitas das crianças a uma favela, a um asilo, a um lixão. […] Eu mesmo, como aluno, participei de várias atividades dessa natureza. […]
É impossível vivenciar uma realidade de sofrimento, de perda de condição de existência, e essa experiência se apagar da mente de pessoas eticamente sadias. Considero que há necessidade de as escolas retomarem em alguma medida essa prática. […] Qual é a energia que move a compaixão? Uma visão agápica (amor partilhado) em que se tenha a ideia de caridade, que não é mera filantropia,  na concepção de fazer bem apenas para aquele que a faz.

Fazer o bem também faz bem. Mas fazer o bem faz bem quando a pessoa o faz como um propósito de vida, e não apenas como circunstância momentânea.[…] O jornalista britânico George Linnaeus Banks (1821 – 1881) tem um poema chamado Para que vivo eu:
“Eu vivo para os que me amam,
Para os que me sabem justo,
Para o céu que sorri acima de mim
E também aguarda a minha alma,
Para a causa carecida de assistência,
Para o mal que carece de resistência,
Para o futuro na distância
E para o bem que eu posso fazer”.
Trecho do Livro: Educação, Convivência e Ética: Audácia e Esperança -De Mário Sérgio Cortella. Páginas 30 a 35. Cortez Editora, São Paulo- SP. 



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