Nessa entrevista, Noam Chomsky aborda a temática da educação e defende a idéia de
que as escolas deveriam ser espaços que envolvessem os alunos na prática da
democracia. Em uma forte crítica ao sistema educacional estadunidense, afirma que este
tem sido um espaço de doutrinação da juventude. Insiste ainda que o mito da
objetividade tem favorecido a manutenção dos grupos dominantes. Falando sobre o que
as escolas poderiam ser, declara que um bom professor sabe que a melhor maneira de
ajudar os alunos a aprender é deixá-los descobrir a verdade por eles próprios. Segundo
Chomsky, o verdadeiro conhecimento vem através da descoberta da verdade e não
através da imposição de uma verdade oficial interesses das grandes corporações.
Donaldo Macedo – As suas declarações sugerem, e eu concordo, que nas sociedades
abertas a censura está, em grande parte, integrada no tecido do qual depende a
propaganda e a sua tentativa de “controlar a mente pública”. Porém, na minha
perspectiva, a censura numa sociedade aberta difere substancialmente da forma de
censura exercida em sociedades totalitárias. O que eu tenho observado nos Estados
Unidos é que a censura não só se manifesta de um modo diferente, mas também que
depende de uma forma de auto-censura. Quais são os papéis dos meios de
comunicação social e da educação neste processo?
Noam Chomsky – Aquilo que você chamou de auto-censura começa em muito tenra idade,
através de um processo de socialização que é também uma forma de doutrinação que
funciona contra o pensamento independente, em favor da obediência. As escolas funcionam
como um mecanismo para essa socialização. O objetivo é evitar que as pessoas façam as
perguntas que interessam acerca de questões importantes que as afetam diretamente, a elas
e a outros. Nas escolas não se aprende apenas conteúdos. Como já mencionei, se quiser
tornar-se num professor de matemática, não basta aprender muita matemática.
Adicionalmente é preciso aprender como se comportar, como se vestir de um modo
apropriado, que tipos de questões podem ser levantadas, como encaixar (ou seja, como se
adaptar), etc. Se mostrar demasiada independência e questionar o código da sua profissão
com demasiada freqüência, o mais provável é ser excluído do sistema de privilégios.
Assim, rapidamente aprende que, para ter sucesso, tem que servir os interesses do sistema
doutrinal. Tem que ficar calado e instilar nos seus estudantes as crenças e doutrinas que
servirão os interesses daqueles que detêm o verdadeiro poder. A classe empresarial e os
seus interesses privados são representados pelo elo estado-empresa. Mas as escolas estão
longe de ser o único instrumento de doutrinação. Outras instituições se conjugam para
reforçar o processo de doutrinação. Vejamos aquilo que nos impingem pela televisão.
Pedem-nos para assistirmos a um conjunto de programas vazios, concebidos como
entretenimento, mas desenhados para desviar a atenção das pessoas dos seus verdadeiros
problemas ou de identificarem as fontes dos seus problemas. Assim, esses programas
vazios socializam o espectador, para que se torne num consumidor passivo. Uma das
formas de gerir uma vida frustrada é comprar cada vez mais coisas. Os programas exploram
as necessidades emocionais das pessoas e mantêm-nas desligadas das necessidades dos
outros. A medida que os espaços públicos se desintegram, as escolas e os poucos espaços
públicos que restam trabalham para tornar as pessoas boas consumidoras.
http://www.curriculosemfronteiras.org/vol4iss1articles/chomsky.pdf
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