“Às vezes falamos como se não houvesse alternativa
para um mundo de luta e competição, e como se devêssemos preparar nossas
crianças e jovens para essa realidade. Tal atitude se baseia num erro e gera um
engano.
Não é a agressão a emoção fundamental que define o
humano, mas o amor, a coexistência na aceitação do outro como um legítimo outro
na convivência. Não é a luta o modo fundamental de relação humana, mas a
colaboração.”
Humberto Maturana
Apesar de vivermos numa sociedade cada vez mais competitiva, que disputa de forma selvagem (quase sempre de uma forma irracional) desde vagas num estacionamento até posições em processos seletivos para acesso ao ensino superior ou a cargos de empresas, educadores e pesquisadores de todo o mundo reafirmam o pensamento de Maturana (1988)¹. Ele destaca que as práticas colaborativas e cooperativas são primordiais: “é preciso aprender a olhar e escutar sem medo de deixar de ser, sem medo de deixar o outro ser em harmonia, sem submissão.”
Em
contexto escolar, desenvolver relações harmoniosas entre os alunos é essencial
para a aprendizagem, em todos os níveis de ensino. A competência geral de número
9 da Base Nacional Comum Curricular, inclusive, nos fala em “exercitar a
empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se
respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos (…)”. Mas
como podemos, na prática, desenvolver a cooperação, a colaboração e a harmonia
das relações em sala de aula?
As
metodologias ativas de aprendizagem, por exemplo, preveem como objetivo práticas
colaborativas: aprendizagem baseada em problemas e em projetos, educação maker,
game based learning (aprendizagem baseada em jogos) etc. Todas, de algum
modo, potencializam o engajamento dos educandos em seu próprio processo de
aprendizagem e estimulam a interação entre eles e com os educadores, tornando a
relação professor/alunos mais democrática e significativa.
Contudo,
é preciso considerar que, permeando todas essas possibilidades de práticas e
metodologias, inscreve-se a importância do desenvolvimento de habilidades e
competências para se lidar bem com os aspectos emocionais que surgem nas
interações de sala de aula. Pouco adianta um professor solicitar um projeto a
ser realizado em grupo, por exemplo, visando a interação entre os alunos, se os
aspectos socioafetivos desse processo não são considerados, se o diálogo
respeitoso e a escuta atenta do outro nas conversações não são levados em conta,
e se o que se estimula é apenas a competição, em vez da colaboração para se
chegar à resolução de um conflito/problema ou ao cumprimento de uma meta. Além
disso, é preciso que os educandos se sintam confortáveis e seguros ao exporem
suas ideias e opiniões, e sejam estimulados a desenvolverem sua criticidade no
decorrer de qualquer prática pedagógica.
Assim, verificamos que o que realmente sustenta um processo de aprendizagem significativo pelos educandos, garantindo um ambiente colaborativo, instigante e emocionalmente seguro, é o desenvolvimento de competências e habilidades socioemocionais. Nesse contexto, o cuidado com as emoções que emergem na relação professor/alunos é fundamental, tanto para a construção de um clima relacional que proporcione bem-estar para educandos e educadores, como para que o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos ocorra de maneira eficiente e contextualizada.
Referência
¹MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Tradução: José Fernando Campos Fortes. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
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