quarta-feira, 27 de abril de 2016

Projeto escolar para as crianças aprenderem a gerir as emoções.

A nova geração de crian­ças e adolescentes tem desa­fiado pais e educadores a lidar com um novo perfil de com­portamento. Guiados pelas tecnologias, eles são movidos por tablets e celulares, têm se distanciado de atividades em grupo e passam a enfrentar dificuldades para lidar com frustrações na infância e com os desafios da vida adulta. Os pais, por sua vez, para conse­guir proporcionar à família um bom padrão de vida se subme­tem a rotinas de trabalho exte­nuantes e acabam tendo menos tempo para acompanhar as ne­cessidades de seus filhos.
Para auxiliar os educadores a lidarem com esses desafios, algumas escolas têm recorrido a disciplinas focadas nas necessi­dades emocionais das crianças e adolescentes. Em Ribeirão Preto, algumas escolas implantaram na estrutura curricular a Escola da Inteligência. A metodologia foi desenvolvida pelo psiquiatra, psicoterapeuta, pesquisador e escritor Augusto Cury e se ba­seia na Teoria da Inteligência Multifocal para desenvolver habilidades socioemocionais nos alunos, na família e nos professores. O programa já está sendo usado por mais de 200 mil alunos no Brasil e exterior e tem apresentado resultados expressivos como melhor ca­pacidade de concentração, au­mento do respeito e da tolerân­cia, bem como a diminuição da violência e do bullying.
A metodologia é fundamen­tada em materiais didáticos e debates de ideias que são apre­sentados de forma lúdica aos alunos. Um professor do próprio colégio é capacitado pelos ins­trutores da Escola da Inteligência e se torna apto a trabalhar com crianças desde os quatro anos, até alunos do 3º ano do Ensino Médio. “O professor vai aplicar ensinamentos para promover habilidades socioemocionais dos alunos, como gerenciar seus pensamentos, ampliar o autoco­nhecimento, se colocar no lugar do outro, lidar com a intolerân­cia e a falta de empatia. Da mes­ma forma como ele aprende as habilidades cognitivas, como a leitura, aptidões para calcular, percepção e foco”, explica Bru­no Alves Oliveira, presidente do Grupo Educacional Augusto Cury, que é especialista em psi­cologia multifocal e máster nos estados Unidos.
As aulas são inseridas na estrutura curricular da escola e acon­tecem uma vez por semana. Os temas são trabalhados por meio da reflexão. O professor promo­ve debates para que os alunos saibam lidar, por exemplo, com o nervosismo e adquiram auto­controle. Um dos jogos propos­tos aos alunos se chama “Cidade da Memória”. Nele, há vários bairros, como o da reclamação, por exemplo. “Nesta brinca­deira os alunos aprendem que, como nas cidades físicas gera­mos lixo, na nossa mente gera­mos o lixo psíquico, que preci­sa ser reciclado para que não vivamos em um bairro sujo e degradado”, explica Oliveira.


Interação familiar – A competitividade no mercado de trabalho e o crescimento das despesas familiares têm forçado muitos pais a ampliar sua jor­nada de trabalho. Este cenário faz com que eles passem me­nos tempo ao lado dos filhos e, quando chegam em casa, estão tão extenuados que não conse-guem interagir com as crianças e adolescentes. Nasce aí o con­flito e a culpa de pais e mães. Para compensar, eles se tornam muito permissivos e superpro­tetores, o que acaba por agravar ainda mais os perfis de crianças que têm dificuldades para lidar com as emoções. Futuramente eles se tornarão adultos frus­trados. “Os pais estão perdidos. Para eles, é muito mais fácil fa­lar sim, do que não. Ao invés de terceirizar a educação dos filhos eles precisam compartilhar suas histórias”, alerta o especialista.
Durante as aulas de In­teligência Emocional há ativi­dades que incentivam os pais a falarem com seus filhos sobre seus fracassos e dificuldades. “É importante que os pais não poupem seus filhos de suas an­gústias. Eles precisam aprender a lidar com os sentimentos nega­tivos”. Bruno cita como exemplo, uma situação na qual, em uma brincadeira livre, uma criança empurra a outra. Neste caso é preciso que ela saiba lidar com a situação. Mas se os pais a pou­pam deste tipo de experiência ela não terá essa bagagem emocio­nal. Quando se tornar um pro­fissional ela terá problemas de comportamento que, segundo Oliveira, é uma das principais causas de demissão apontada por várias pesquisas que avaliam o ambiente corporativo.


Excesso de informações – Um dos problemas da geração atual é o excesso de informações, que não necessariamente gera conhecimento. “As crianças são submetidas a um ambiente com muitos estímulos. Na TV são vários diálogos ao mesmo tem­po. Elas passam horas utilizando tablets e celulares. Além disso, fa­zem uma série de atividades ex­tracurriculares, como balé, judô, inglês, natação”.
Todo este ambiente faz com que elas possam sofrer do que Augusto Cury chama de Sín­drome do Pensamento Acele-rado (SPA). “Essa situação é uma bomba para a saúde men­tal causando problemas físicos como transtorno do sono, dores de cabeça e musculares”, alerta o especialista. O mais grave é que muitas vezes a SPA é con­fundida com o Transtorno do Déficit de Atenção com Hipe-ratividade (TDAH), que é raro, mas tem sido diagnosticado com frequência, levando as crianças a fazerem uso de medicamentos desnecessariamente, ao invés de serem orientadas a lidar melhor com suas emoções.
Letícia Tozetti
http://www.tribunaribeirao.com.br/aplicativo/escolas-ganham-nova-disciplina-para-tratar-das-emocoes/

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