quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Comportamento em grupo


A violência possui diversas causas. É comum se pensar que atos violentos são realizados por pessoas violentas - pessoas com uma essência "má" que as diferem do resto da população. Mas uma das causas da violência, a influência social, provavelmente está por detrás de muitos episódios de violência. 


https://www.youtube.com/watch?v=_qYby0fcI3c


Ter esse conhecimento, é claro, nos ajuda a entender o comportamento das pessoas e a ser mais precavidos, mas não a justificar tais comportamentos. Nesse vídeo, veremos que, nem sempre, quem faz coisas más são pessoas com um histórico e propensão a agir agressivamente.

https://www.youtube.com/watch?v=dPVPnQTr-ow

Para Zimbardo (2012), alguns processos psicológicos influenciam nessa transformação dos indivíduos dentro do aspecto situacional. Por primeiro a desumanização, que seria central em seu estudo, é um estado onde o indivíduo não vê mais o sujeito como um igual humano. Algumas pessoas acabam percebendo que o indivíduo a sua frente nada mais é que um ser inferior, merecedor de castigo, dor e aniquilação. Esse fato é exemplificado no livro O Efeito Lúcifer com o depoimento do autor acerca de uma investigação de uso de tortura na prisão americana de Abu Ghraib5 . Com o trabalho do autor podemos perceber que todos são passíveis de mudanças de caráter se colocados num ambiente propício a isso. Na tentativa de se adaptar ao local ou pelo instinto de sobrevivência alguns tendem a concordar com as ações do grupo no qual estão inseridos. Estas ações e suas variáveis, por mais sutis que sejam, podem levar uma boa pessoa a cometer atrocidades. Porém, a maioria dos sujeitos pensa que atitudes assim nunca lhes ocorreria, a isso Zimbardo (2012) explica: “A maioria de nós se esconde por trás de inclinações egocêntricas que provocam ilusões de que somos especiais. Esse escudo autoprotetor nos permite pensar que todos nós estaríamos acima da média em um teste de integridade.” (ZIMBARDO, 2012, p.24).


É possível afirmar que alguns homens, devido a forma que vivem em sociedade, nunca encontrarão situações onde essa integridade será realmente testada. Mas, se percebermos os ideais transmitidos através dos meios midiáticos atuais os ajustes comportamentais condiciondos ao grupo que Zimbardo fala, não parecem distantes. 



Exemplo disso é a propaganda americana da guerra ao terror que justifica a invasão, morte e atrocidades a milhares de outras pessoas. O preconceito de classe, gênero, cor e sexualidade presentes na sociedade atual, também são exemplos que nos mostram que nossa falsa integridade sempre está à mercê de influências, e eventualmente com a pressão certa, mesmo seu vizinho poderá se tornar seu inimigo mortal, batendo à sua porta durante a noite para cometer contra sua família, as mesmas atrocidades que comodamente você ignora quando ocorrem em locais distantes de sua vida, perdidas em algum um país distante6. Tudo depende da pressão do grupo e das circunstâncias.


A trajetória dos povos encontra‐se permeada por momentos históricos de transição de aspectos de comportamento social, porém é inerente ao sujeito componentes que se contrapõe, como o amor e o ódio, o bem e o mal, a bondade e a crueldade. Desde a ascensão do cristianismo, onde na maioria mulheres e em minoria homens, deficientes físicos e com pouca influência social, eram queimados vivos em fogueiras, ou na idade média em que eram comuns execuções em praça pública, até as execuções em massa na atualidade, a crueldade dos povos segue a perpetuar o domínio pelo medo. Das modificações sociais onde o espetáculo de crueldade ocupava espaço público às instituições totais, a crueldade parece amadurecer‐se requintada em suas formas e métodos. Seriam, desta forma, as instituições totais ferramentas políticas de instrumentalização da crueldade? Seriam os massacres em massa expressão socialmente aceitável, em que a crueldade do eu ganha forma na manifestação do grupo, e desta forma torna‐se socialmente tolerável? Ou é apenas uma questão da situação momentânea? Nem mesmo as modificações sociais que ocorreram neste espaço temporal, tornam o sujeito menos cruel, ou mune às influencias da crueldade social, que é refletida na atualidade.



Mas então, como nos proteger desses defeitos e falhas morais e prevenir o surgimento de comportamentos nocivos? A questão aqui seria como podemos educar alguém para que consiga desenvolver a resistência ao mal? A adquirir os instrumentos mentais que protejam sua moral e que a apoiem na escolha do caminho da virtude uma vez que somos educados em uma sociedade onde este comportamento não é estimulado? Não dizemos aqui que o herói, que a constante luta contra os desejos em prol da razão, seja em si a solução derradeira, todavia é a que mais se aproxima como dito por Zimbardo de superar os problemas que a vulnerabilidade humana natural tem ao encontrar‐se com o aspecto situacional.
Isso nos leva a uma segunda pergunta: Onde, ou seja, em que meios podemos desenvolver este tipo de comportamento? Obviamente em toda a sociedade, porém um bom local para começarmos seria na escola. Levando este pensamento um pouco mais longe, temos a ideia do triângulo: família, sociedade, escola. A educação que se procura na escola seria de preparação de um indivíduo para assumir o seu papel na sociedade. No entanto, a mesma escola é, como dito anteriormente,um espelho desta sociedade, o que acarreta que o mesmo comportamento que se deseja prevenir acaba presente durante o processo de aprendizagem, trazido pelo alunos e sua convivência familiar/social ou até mesmo (e não raramente) pelos professores que ali estão.


Sem dúvida, o primeiro passo para uma educação que previna o mal seria a compreensão primeira da própria vulnerabilidade humana do indivíduo. A questão então é como criar condições para este saber e perceber‐se como um ser limitado, vulnerável, que pode vitimar‐se por inúmeras situações da vida faz com que o homem tenha uma visão diferente de mundo.


O educador social desempenha um papel importante junto dos sujeitos com os quais interage, pois dele depende uma integração social positiva nos contextos em que vivem. O seu trabalho, orientado por critérios de competência profissional baseada em metodologias e técnicas orientadas para uma prática social de intervenção, corresponde, no dizer da Carvalho e Baptista (2004), a um espaço profissional desenhado no ponto de encontro, e de cruzamento, entre a área de trabalho social e da área da educação (p. 83). 


A sua relação com os outros deve pautar-se por comportamentos de respeito e de combate a todas as situações discriminatórias, trabalhando, no dizer de Diaz (2006) para uma socialização terciária (…) ou seja, o processo mediante o qual se pretende que um indivíduo se reintegre na sociedade depois de ter revelado condutas anti-sociais, associais o dissociais (p. 100), visando a inclusão plena dos diversos atores sociais.  

Para Noguero e Solís (2003) o objetivo final das ações do educador social é conseguir a participação de todos os membros do grupo com o fim de transformar a realidade. (…) supõe a criação de um processo de ensino – aprendizagem de uma série de valores, atitudes e estratégias que estejam de acordo com o espírito crítico, a participação ativa, a transformação social, etc. (p.6). Ao procurar consolidar e renovar as redes sociais já existentes, pode, também, criar novas redes de espaços de pertença e referência afetiva, atuando de forma direta, mas sem tomar partido ou dar a solução. Deve escutar, estar atento, conduzir as respostas dos verdadeiros protagonistas, criando, no dizer de Carvalho e Baptista (2004), a chamada distância óptima, que conjuga racionalidade com sensibilidade e serenidade (p. 93). Na criação de pontes entre o indivíduo, a família, as instituições e a sociedade em geral, em áreas que vão desde lares da terceira idade, às escolas, prisões, hospitais e autarquias, ele desempenha o papel de um interlocutor privilegiado, apontando caminhos para a solução de problemas vividos e sentidos nos contextos em que intervém.


O “traço” marcante do Educador Social é, sem dúvida, a capacidade para saber encontrar e ajudar a percorrer caminhos que vão no sentido do bem estar da pessoa e da sociedade. O que o distingue de outros profissionais é a formação polivalente que lhe permite apropriar-se de situações de carência, saber intervir educativamente e encaminhar para outros profissionais os casos que necessitam de intervenção especializada. O Educador Social é um mediador entre sujeitos e as respostas profilácticas ou terapêuticas aplicáveis (Borda Cardoso, s/d, p. 14).  


https://archive.org/stream/TheLuciferEffectUnderstandingHowGoodPeopleTurnEvilISBN9781400064113/The%20Lucifer%20Effect%20-%20Understanding%20How%20Good%20People%20Turn%20Evil%20%28ISBN-978-1-4000-6411-3%29_djvu.txt

http://xanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/346-0.pdf

https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/7726/1/87-335-1-PB.pdf

sábado, 20 de janeiro de 2018

Os Educadores Sociais e a reintegração Social na Saúde Mental


“O termo “Reabilitação Psicossocial”, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, é visto como um processo e não uma técnica, que tem como objetivo oferecer aos indivíduos inadaptados, em consequência do transtorno mental, condições para exercer as suas aptidões na sociedade, OMS (2001). A construção da cidadania, bem como a restituição da contratualidade do indivíduo no seu habitat, e o trabalho como um valor social inalienável, são os eixos norteadores do processo de Reabilitação Psicossocial. Assim, o processo de desinstitucionalização é deslocar o olhar para a “existência sofrimento” em relação ao corpo social, retirando o indivíduo dos “parênteses” colocados pela psiquiatria. A finalidade desse processo é a “invenção de saúde” e a “reprodução social do doente”, no sentido da sua sociabilidade, Rotelli (2001) citado por Leão (2008, p. 98). Ao optar por estruturar as diretrizes políticas da saúde mental e suas práticas dessa forma, assumindo o conceito de desinstitucionalização referente ao seu aspeto de crítica e negação do paradigma psiquiátrico, Costa-Rosa e col. (2003) citado por Leão (2008, p. 99). A desinstitucionalização e os preceitos da Reabilitação Psicossocial “perpassam todo o discurso de modelo assistencial que vem sendo implantado e tem sido um norte e um argumento para a política dessa área”, Cambraia (2004) citado por Leão (2008, p. 99). A afirmação de que as famílias não se responsabilizavam pelo seu doente, transmitindo a tutoria para o hospital psiquiátrico, é um dos reflexos dos papéis de culpabilização e de cumplicidade atribuídos às mesmas no modelo psiquiátrico tradicional, Saraceno (1999) citado por Leão (2008, p. 100). A existência da doença, bem como a necessidade de tratamento, não são negadas, o que se coloca em discussão são as formas de lidar com a pessoa na sua “existência sofrimento”. Nesse caso, a desinstitucionalização, a ser perseguida nos serviços substitutivos, é a remoção de barreiras na sua implementação, Rotelli (2001) citado por Leão (2008, p. 103).”
“Ao equacionar-se o desenvolvimento de alternativas habitacionais para pessoas com doença mental, Carling, Randolph, Blanch, & Ridgway (1987) citados por Maria (2000, p. 188), consideram que dever-se-á ter presente 3 questões base, nomeadamente: 
- Onde é que as pessoas com este tipo de problemáticas mentais vivem? 
- Onde é que elas querem viver? 
- Como é que aí as poderemos ajudar a ser bem sucedidas?


Para responder convenientemente a estas questões estes autores consideram ainda que terá que haver, entre outros factores, uma mudança fundamental na orientação que a investigação tradicionalmente toma. Ter-se-á assim que passar de uma prática na investigação em que os investigadores definem, e orientam, todo o processo para um processo de co-investigação entre profissionais e consumidores. Será também necessário que os consumidores tenham não só uma voz na definição dos sistemas que visam satisfazer as suas necessidades, como também sejam consultados em todos os assuntos relacionados com a política de saúde mental, Davidson, et al. (1996) citado por Maria (2000, p. 188).
Existem várias estratégias em que os investigadores, os responsáveis por serviços sociais, os técnicos, e os grupos de defesa dos interesses dos consumidores se poderão apoiar como instrumento de pressão para documentar a falta de habitações acessíveis, e as situações de pobreza em que muitos desses consumidores se encontram. Uma dessas estratégias poderá passar pelo recurso a estudos que incidam sobre relação entre a satisfação das necessidades dos consumidores e a influência no seu processo de reabilitação, nomeadamente ao nível do custo/benefício. Se for possível demonstrar a poupança nos custos, pela redução do tempo de duração dos internamentos psiquiátricos, de uma diminuição da utilização dos serviços de urgências psiquiátricas, e de uma melhoria dos resultados ao nível da reabilitação (decorrente de um emprego ou da participação em outras atividades produtivas), poder-se-á fazer um apelo mais forte e fundamentado para as preferências dos consumidores, Yeich, et al. (1994) citado por Maria (2000, p. 188).


A intervenção sócio educativa, nestes casos, consistirá em ajudar, aconselhar e promover o doente mental na sua formação e desenvolvimento pessoal, dentro do âmbito de ação sócio educativo. Manifesta-se, assim, numa procura de inclusão na prática social, revelando assim um compromisso com a realidade social, através das tarefas da ação e intervenção social e reeducativa. O trabalho sócio educativo é um trabalho constante e organizado, que ambiciona ser uma solução com necessidades diferentes e forçadas a condições intrínsecas diversas, tais como: A pobreza, a exclusão social, o abandono e baixas qualificações.

Os programas de intervenção sócio educativa estimulam a mudança. Nascem de um desejo de mudar uma vida, são atividades organizadas e pensadas por um grupo de educadores sociais que partem de um diagnóstico de uma determinada dificuldade, para ajudar numa determinada posição. Os educadores possuem conhecimentos que influem na mudança de comportamentos, porque distinguem determinadas situações e têm a capacidade de tomar resoluções, ao assegurar o duplo papel: de investigadores e educadores. São profissionais que mostram um perfil ativo e maleável, com conhecimentos e experiências essenciais para a prática de distintas tarefas. Sendo que, o doente mental, na maioria dos casos vê diminuída a sua autonomia e inserção social, passa pelo educador social desenvolver programas que visem a promoção desses aspetos no indivíduo, bem como, também a aquisição de alguma profissionalização (no sentido daquilo que vem sendo prática nos casos de deficiência mental) e na educação familiar, no sentido de reorganização das rotinas e práticas familiares. Cremos que, com estas ações o educador social poderá ter um papel premente no processo de desinstitucionalização.


quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O papel do Educador Social (parte 2)



As dificuldades que o educador social enfrenta são reais e determinadas por condicionantes socioculturais que constituem uma fronteira à sua atuação. Carvalho e Baptista (2004) destacam entre elas o crescente reconhecimento da autonomia dos educandos como um direito que terá que ser garantido, o aumento das populações alvo com as quais o educador social tem de lidar, o grau de complexidade das tarefas desempenhadas, a abstração do sistema e a centração da intervenção no educando concreto, a criação de um bom clima relacional e de diálogo, a responsabilidade assumida pelo garante do bem- estar do educando, o reconhecimento da formação contínua e da lifelong learning para a vida de todas as pessoas, o que lhes traz a tarefa da formação para si e para ou outros e, finalmente, o desenvolvimento e aperfeiçoamento de um trabalho social em rede, que será tanto mais profícuo quanto mais for integrado em equipas multi e interdisciplinares (p. 104). 
O “traço” marcante do Educador Social é, sem dúvida, a capacidade para saber encontrar e ajudar a percorrer caminhos que vão no sentido do bem estar da pessoa e da sociedade. O que o distingue de outros profissionais é a formação polivalente que lhe permite apropriar-se de situações de carência, saber intervir educativamente e encaminhar para outros profissionais os casos que necessitam de intervenção especializada. O Educador Social é um mediador entre sujeitos e as respostas profilácticas ou terapêuticas aplicáveis (Borda Cardoso, s/d, p. 14). 
O educador social: competências e formação contínua Perrenoud (1999) refere que as competências partem de uma apropriação integrada de saberes, de atitudes e do saber fazer sob a forma de capacidades. São estas competências que dotarão o educador social, pela reflexão, de uma possibilidade de intervenção sobre uma realidade problemática, cuja leitura assenta na comunicação, na empatia, na persistência superando obstáculos, nas injustiças, nas frustrações, na construção do sonho e da esperança. O educador social deve adquirir competências para exercer a sua atividade profissionalizante numa perspetiva inclusiva e promover o desenvolvimento de atividades de dinamização, usando estratégias mobilizadoras do quadro sociocultural da comunidade e do indivíduo. Para tal, deve utilizar, de forma integrada, os saberes transversais e multidisciplinares adequados às necessidades do indivíduo/instituição/comunidade e demonstrar capacidade de integração numa dinâmica de trabalho social em rede. Dada a sua intervenção em contextos sociais diversificados precisa de conceber a elaboração, a implementação e a avaliação de projetos da e na instituição, precisa de divulgar experiências e boas práticas na comunidade, bem como avaliar o seu desenvolvimento profissional. A sua intervenção tem de ser eficaz, inovadora, baseada em práticas e políticas atuais, definindo prioridades, fazendo escolhas, valorizando experiências e colocando os saberes adquiridos ao serviço dos outros. O desenvolvimento de competências instrumentais a par das competências interpessoais e estratégicas, são fundamentais para criação do estereótipo que caracteriza a sua profissão. As competências instrumentais preparam-no para o saber fazer, nomeadamente o saber utilizar metodologias, técnicas e estratégias de intervenção específicas, a capacidade para produzir conhecimento científico na área da sua especialidade, o ter conhecimento das funções dos equipamentos, instituições e serviços sociais, o saber utilizar redes sociais de apoio, o possuir uma cultura geral vasta; nas competências interpessoais, destaca-se a importância do saber ser neutro, aceitando e valorizando a diferença, o saber gerir conflitos, o favorecer a integração grupal, o pensar de uma forma crítica e reflexiva; ao nível das competências estratégicas, necessita de ser um profissional com elevado grau de criatividade, de autonomia, de segurança, de atenção às problemáticas sociais e com capacidade de integrar saberes resultantes de uma atitude atenta e aberta às aprendizagens (Borda Cardoso, s/d, p. 8). Dada a sua formação académica, o educador social, está capacitado para um trabalho social em rede, integrador, globalizante e eclético. No dizer de Carvalho e Baptista (2004) é detentor de uma mentalidade curricular, que lhe permite operar numa realidade multifacetada e problemática em constante mudança. Esta mais mais-valia concede-lhe a possibilidade de gizar estratégias de intervenção de tipo sistémico, pedagogicamente diferenciadas e interactivas (p. 84). Mas, é através da educação social, como refere Diaz (2006), que é dada ao educador social a aquisição de competências sociais, na medida em que é uma acção educativa que procura que os indivíduos pertencentes a uma determinada sociedade se formem e adquiram as habilidades e competências sociais, consideradas necessárias para alcançar a integração social (p. 100). 

Hoje em dia a formação contínua é fundamental para acompanhar a evolução da sociedade. É importante ganhar consciência que cada um deve ter um projeto coerente, integrado, de autoformação, de uma aprendizagem ao longo da vida, como uma forma constante de se conhecer e de desenvolver estratégias que permitam uma atualização e uma adaptação às novas tecnologias. Esta formação tem de ser desejada e não imposta e o educador social como ator e sujeito tem de desenvolver competências que lhe permitam fazer escolhas e assumir responsabilidades. Os eixos da formação e investigação do educador social passam, como Carvalho e Baptista (2004) referem, pela teorização das práticas e das acções com vista à construção de saberes próprios; mobilização (…) de conhecimentos e saberes originariamente externos; construção de saberes originais (…) dinâmicos num espaço plural e mutável; implicação dos formadores, formandos, supervisores enquanto actores de práticas conflituais de modo a que a interatividade seja assumida como instância catalizadora de reflexão e formação (p. 86). Bottega e Merlo (2010) afirmam que Esse educador, em constante formação e transformação, em contato com a dinâmica das relações sociais em que vive, na rua, na escola, tem, no histórico de sua formação, um compromisso com a militância social e política (p 263.). Ele tem o direito e o dever ao seu desenvolvimento profissional, através de atividades de formação permanente, sendo também promotor da sua autoformação e atualização científica e metodológica, como agente ativo na inovação e investigação socioeducativa. Para Carvalho e Baptista (2004) a formação contínua é a vivência de atitudes que permitem pela curiosidade, pela descoberta, pela organização de iniciativas, uma evolução e uma transformação colocadas ao serviço dos outros. Ela deve ser vista e entendida como um projeto de vida.
 
Nesta medida não pode alhear-se da realidade que o envolve, da qual é parte integrante, observador, objeto observado, sujeito ativo, influenciado, dependente e interativo, numa simbiose tão estranha quanto real. Por isso, deve estar preparado para adquirir novas competências que o ajudem a atuar em áreas socialmente desfavorecidas em constante crescimento e transformação, que vão desde a marginalização por delinquência, toxicodependência, desagregação dos laços familiares, conflitos com a escola, comunidades de imigrantes. Segundo Carvalho e Baptista (2004) A cultura empresta-lhe com uma finalidade formativa a dimensão interpretativa da complexidade constitutiva do real, agindo oportunamente no momento, mas que conduz, também, à inserção social e realização pessoal, pelo desenho de projetos de intervenção, oportunos, eficazes e partilhados pelos destinatários (p. 90). Os educadores sociais, Por possuírem um saber profissional culturalmente abrangente (…) encontram-se numa situação privilegiada para ajudar a redefinir os mapas educativos e sociais das cidades, de modo que possam, efectivamente, constituir-se como cidades educadoras. É que a cidade educadora pressupõe uma concepção estratégica, cultural e relacional do desenvolvimento, convocando a mobilização de competências profissionais culturalmente alicerçadas (Carvalho e Baptista, 2004, p. 90). Numa sociedade competitiva como aquela em que vivemos torna-se premente aliar a qualidade à inovação, pois, como diz Carneiro (2000) nunca, como hoje, se apelou tanto à capacidade de aprendizagem generativa – aquela que assenta no pensamento diferente e na busca de soluções não convencionais (p. 76). O Educador Social necessita acompanhar a dinâmica do tempo e do conhecimento. Para isso, exige-se-lhe uma atitude de abertura em relação às oportunidades de actualização que vão surgindo, (…) Terá é, de crítica e criteriosamente, saber orientar as suas opções para o campo do conhecimento que sabe fazer parte do seu projecto de auto-formação, num contexto mais alargado como é o da aprendizagem ao longo da vida. (…) A capacidade de saber seleccionar a formação que lhe interessa, traçando um caminho formativo adequado, permitir-lhe-á a consolidação de um perfil com competências que o poderão especializar para o exercício de funções inerentes à sua profissão. (…) A formação, sendo cada vez mais uma auto-formação pela implicação do sujeito na construção do próprio saber, não pode ficar-se pela formação inicial mas ser um propósito sempre presente pela obtenção de competências que as situações de aprendizagem, no terreno ou em espaços formais, lhe conferem (Borda Cardoso, s/d, p. 11). A formação contínua é, no dizer de Borda Cardoso (s/d), fundamental para o questionamento das grandes linhas de orientação profissional, para a criação de espaços de investigação, no apoio profissional, na divulgação de iniciativas, na luta pelo reconhecimento profissional e académico (p. 14) e a estruturação de currículos de formação do Educador Social deverá ter em vista o desenvolvimento de capacidades para ser capaz de ser um agente de adaptação e socialização, saber intervir com metodologias e didácticas específicas, desenvolver acções preventivas e de remediação ao nível de várias problemáticas sociais, ser agente da educação extra-escolar, ser um profissional reflexivo com capacidade de produzir conhecimento científico (Borda Cardoso, s/d, pp.8-9). 



A importância de uma forte formação científico – cultural requer uma forte preparação para a caracterização das realidades sociais, para a concepção e desenvolvimento de projectos sócio – educativos, para a articulação entre equipamentos sociais, instituições e serviços, para ser interface com pessoas e grupos de outras especialidades, para o trabalho em equipa, para assumir a direcção de instituições e a coordenação de projectos de intervenção, para a intervenção em contextos variados, para a cooperação ao nível do desenvolvimento e colaboração com instâncias internacionais (Borda Cardoso, s/d, pp. 7-8). Para Carvalho e Baptista (2004) a atuação do educador social só será viável se, em liberdade e com responsabilidade, interventivo e reflexivo, conseguir pôr em prática o círculo virtuoso açãoreflexão, reflexão-ação, na medida em que consegue a mobilização das capacidades de decisão, de enfrentar riscos, de avaliar, de agir e escutar, sem privilegiar qualquer procedimento em detrimento de outro (p. 87). É visível a necessidade da criação de um campo de discussão, de reflexão e de construção contínua entre as práticas de intervenção já instauradas e a contribuição das diferentes áreas do conhecimento, construindo e aprimorando constantemente um novo saber (…) e suportar as inquietações tão necessárias para a manifestação de ações criativas e transformadoras, em detrimento de um suposto saber que beira ao senso comum (…) (Gerson, p. 491). A identidade profissional do educador social Partindo do pressuposto que o educador social deve assumir a responsabilidade profissional nos assuntos para os quais está preparado, pessoal e tecnicamente, ele tem de assumir, igualmente, uma atitude de análise crítica e reflexiva permanente, em relação a si próprio e ao seu desempenho profissional, não esquecendo a relação afetiva que deve manter com os elementos da equipa de trabalho. Como se caracteriza o processo de inserção profissional do educador social? Que funções lhe são atribuídas? Que estatuto e vínculo laboral? Que actividades são desenvolvidas pelos educadores sociais no contexto da sua prática profissional? Que proximidades e/ou contrastes denotam face à experiência de formação que já concluíram? (Teixeira, 2008, p. 17). O trabalho social, de que a educação faz parte, encerra vários aspetos, que vagueiam entre o(as) práticas de prevenção e acompanhamento quotidiano de pessoas diminuídas; desenvolvimento socioeducativo das pessoas como sujeitos dos processos de inserção; constituição, desenvolvimento e (…) restauração pedagógica de mecanismos cognitvos e de aprendizagem; integração dos indivíduos e grupos na vida da comunidade (…); - ajuda à (re)inserção profissional (…) (Carvalho e Baptista, 2004,
 
Mas se a multiplicidade de papéis que o educador social desempenha, e que, no dizer de Borda Cardoso (s/d) dificultam a construção de uma identidade enquanto técnico especializado, a sua mais valia advém-lhe do seu saber pedagógico, técnico e humano que o tornam insubstituível na orientação e “resolução” de muitos problemas sociais da nossa comtemporaneidade (p. 9). Segundo Gerson (2009) ao defendermos a ideia de que, qualquer que seja a realidade do sujeito, ele é sempre um ser em construção (p. 481), temos como certeza que a sua identidade é marcada pelos contextos em que intervém e que estes condicionam ou orientam as suas escolhas. A construção de uma identidade profissional implica, portanto, um processo de produção de novas relações sociais, o enfrentamento das adversidades, o desenvolvimento de competências e habilidades específicas para o exercício da prática, contribuindo, dessa maneira, para construção de novos saberes. Implica, ainda, considerando o exercício da prática como uma das formas de relação do sujeito com o meio no qual está inserido e no qual intervém, o olhar do outro, o julgamento do outro e a clareza de que o que se busca é o reconhecimento pelo seu fazer e não pelo seu ser (Gerson, 2009, pp. 482-483). Por isso, é importante aprender a lidar com os afetos e as informações, tendo sempre em atenção o sentido e o poder de comunicação com os outros. Das características de identidade que esses educadores vêm construindo em sua prática cotidiana, destacamos a insatisfação, a frustração, o não se sentir reconhecido, o não se sentir respeitado como principais aspectos constituintes dos sentimentos de desvalorização e de impotência que se apresentam como síntese de um discurso mobilizado pela falta e pela descontinuidade, sustentando a queixa instaurada no exercício dessa prática. Se, em um primeiro momento, o educador social tem a indignação como motivação para desenvolver um trabalho transformador, logo depois parece não a sustentar, apropriando-se de um discurso de resignação semelhante ao da população atendida. (Gerson, 2009, p. 490). Para Gerson (2009) O processo de construção de identidade implica um movimento de construção e desconstrução constante, norteado pela ressignificação dos sentidos que o sujeito atribui ao seu fazer, (...) o modo como se enxerga na realidade na qual intervém (p. 491). Para que o educador social seja um bom observador da realidade social, deverá, segundo Carvalho e Baptista (2004) apresentar como caraterísticas do saber profissional a Reflexividade, polivalência técnica, criatividade, adaptabilidade e dinamismo (p. 83). O saber pedagógico dá-lhe ferramentas no âmbito das exigências da actividade educativa, valorizada simultaneamente como arte (p. 83), na medida que educar pressupõe criatividade, empreendedorismo, projeção, abertura, poder de decisão, como ciência (p. 83), porque racionaliza experiências e luta contra as rotinas e o senso comum, como técnica, porque responde à especialização procurando instrumentos que se adaptem às necessidades educativas dos sujeitos e como filosofia, porque a intervenção assenta na problematização constante de ideias, de valores, de comportamentos (p. 84). A ampla diversidade dos contextos e das populações com quem interage dificulta, também, a definição profissional do Educador Social, o tipo de tarefas que poderá desempenhar e a delimitação do seu campo de intervenção. Trabalhando isolado ou em rede, o Educador Social caracteriza-se pela enorme capacidade de percepcionar a realidade, reflectir, adaptar-se às dificuldades e encontrar saídas possíveis para os múltiplos problemas de âmbito social. Por isso, a sua formação profissional deverá ser rigorosa articulando o conhecimento, a formação pedagógica reflectida com uma cultura actual e crítica, fundamental à leitura e compreensão do mundo, à capacidade de orientação e decisão que, a cada momento, terá de tomar. O seu perfil, estruturado pelos saberes ser, estar e fazer, confere-lhe um conjunto de competências que o tornam capaz de agir técnica e pedagogicamente, com sensibilidade social e ética.



 Subjacente aos seus modelos de intervenção está a cultura pedagógica destes profissionais (…) (Borda Cardoso, s/d, p.7). A sociedade contemporânea pauta-se por resultados rápidos e o trabalho de um educador social é um trabalho paulatino, cujos resultados só são visíveis a médio/longo prazo e cuja motivação está dependente do reconhecimento e do respeito pela sua dignidade profissional. Integrado em equipas multidisciplinares, com uma pluralidade de competências e de funções mal definidas que se chocam, se anulam, se constroem e reinventam, fragmentam saberes, geram inseguranças e dificultam a afirmação pública da sua profissão. Por um lado, muitas vezes reduzidos a simples providenciadores de serviços ou a meros gestores de planos de assistência, os educadores sociais sentem-se, também, com frequência, desvalorizados na sua qualidade de técnicos especializados. Ou seja, de actores especificamente qualificados para a função educativa em território social Carvalho e Baptista (2004, p. 97). Para Borda Cardoso (s/d) o reconhecimento do Educador Social poderá depender das dinâmicas da sociedade em geral, da sua postura ética enquanto profissional, da qualidade da sua formação académica, do rigor da sua análise sobre os problemas e da eficácia da sua intervenção (p. 13). Mas Carvalho e Baptista (2004) consideram a identidade do educador social como uma identidade narrativa, na medida em que narra o vivido, partilha, conta, reconta, cruza e reinventa histórias, desenvolve a capacidade de uma escrita de relatórios críticos, memórias descritivas, diários. Será um prático reflexivo, associa a narrativa à reflexão sobre acção, tornando-se mais racional nas atitudes e decisões fundamentais para uma intervenção conseguida (p. 91). Considerações finais O trabalho social em rede permite valorizar o espírito de equipa e a cooperação entre todos os atores intervenientes e atuantes na construção de projetos de vida que possam ser sentidos como sendo de todos, em geral e de cada um em particular. O educador social, enquanto profissional habilitado para uma intervenção na esfera social, confronta-se, no dia-a-dia, com o lado mais negro da vida e do mundo. Uma das suas tarefas é saber lidar com o sofrimento humano e construir respostas eficazes ou pontes socioeducativas que permitam a resolução pronta e eficaz para combater a indiferença, o fatalismo e a inércia. 

Ele é chamado a trabalhar no seio de grupos, onde deverá por em prática a multiplicidade de técnicas e de estratégias de grupo adquiridas durante e ao longo da sua formação como pessoa e como profissional. Como ator profissional no terreno tem de valorizar a proximidade com as pessoas e o caráter único das situações, colocando a sua experiência ao serviço das necessidades sentidas nos mais diferenciados contextos em que intervém. É essencial, para isso, casar a teoria com a prática, gerar dinâmicas profissionais indispensáveis ao seu crescimento e capazes de congregar vontades e sinergias de todos os agentes sociais participantes nos mais diversificados projetos. 

Referências bibliográficas Carvalho, A. D e Baptista, I. (2004). Educação Social – Fundamentos e estratégias. Porto: Porto Editora. Carneiro, R. (2000). |O Futuro da Educação em Portugal. Rendências e Oportunidades. Lisboa: Ministério da Educação. Borda Cardoso, A. M. A. S. (s/d). Alguns desafios que se colocam à Educação Social. Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti. repositorio. esepf.pt/bitstream/handle/…/Cad_3Educacaosocial.pdf?. (Acedido em 2 de Outubro de 2011). Bottega, C. G. e Melro, A. R. C. (2010). Prazer e sofrimento no trabalho dos educadores sociais com adolescentes em situação de rua. Cadernos de Psicologia Social e do Trabalho, 13 (2), 259-275. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516- 37172010000200008&lng=pt&nrm=iso (Acedido em 16 de Outubro de 2011). Diaz, Soriano (2006). Uma Aproximação à Pedagogia - Educação Social Revista Lusófona de Educação, 7, 91-100. www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/rle/n7a 06.pdf. (Acedido em 12 de Outubro de 2011). Gerson, Heidrich da Silva (2009). Educador social: uma identidade a caminho da profissionalização? Educação e Pesquisa, São Paulo, v.35, n.3, p. 479-493,  
 

O papel do Educador Social (1ª parte)

Um educador social faz escolhas que vão desde trabalhar com pessoas que, nos mais distintos momentos e nas mais distintas circunstâncias, precisam de apoio porque sofrem ou têm problemas com os quais não sabem ou não podem lidar. É um trabalho que não basta apenas saber fazer, mas gostar de fazer, sendo muito importantes as motivações, a empatia, o compromisso com a mudança, o crescimento pessoal. Como tal, torna-se primordial conhecer as suas aptidões e capacidades bem como as suas limitações, no sentido de superar obstáculos, pois cada educador social tem um estilo próprio, pessoal e único em saber e em fazer. A formação de um educador social nasce da interceção de várias práticas e identidades profissionais, que têm em comum uma intencionalidade educativa e uma intervenção em e a partir dos mais variados contextos. A sua ação não pode continuar a ser vista como uma experiência inacabada e imperfeita e como tal necessita, sempre e cada vez mais, de uma  sustentação teórica e prática adequada aos desafios que a sociedade lhe coloca. Ele é um dinamizador de grupos, capaz de lidar com os afetos, as emoções, as angústias, os êxitos e as desilusões das pessoas, um agente promotor de mudanças e de aproveitamento dos recursos humanos e materiais disponíveis, quer a nível local, quer a nível regional. As suas áreas de intervenção vão desde a saúde, à infância e juventude, à educação escolar, às autarquias, à justiça e à reeducação, onde é um interlocutor e um mediador privilegiado em assuntos que interessam ao coletivo. Atua no terreno como autor/ator de estratégias contextualizadas, criando pontes socioeducativas que, com o apoio da teoria e da prática, o levam a gerir as problemáticas sociais da realidade em que intervém. Para tal, visando a melhoria do seu desempenho profissional, deve aprofundar as suas qualidades pessoais, fazendo da paciência, da tolerância, do autocontrolo, da empatia, do altruísmo e do equilíbrio as armas fundamentais para um trabalho de sucesso.



O papel do educador social 

O educador social desempenha um papel importante junto dos sujeitos com os quais interage, pois dele depende uma integração social positiva nos contextos em que vivem. O seu trabalho, orientado por critérios de competência profissional baseada em metodologias e técnicas orientadas para uma prática social de intervenção, corresponde, no dizer da Carvalho e Baptista (2004), a um espaço profissional desenhado no ponto de encontro, e de cruzamento, entre a área de trabalho social e da área da educação (p. 83). A sua relação com os outros deve pautar-se por comportamentos de respeito e de combate a todas as situações discriminatórias, trabalhando, no dizer de Diaz (2006) para uma socialização terciária (…) ou seja, o processo mediante o qual se pretende que um indivíduo se reintegre na sociedade depois de ter revelado condutas anti-sociais, associais o dissociais (p. 100), visando a inclusão plena dos diversos atores sociais. Segundo Borda Cardoso (s/d) a definição do papel profissional do Educador Social passa pelo tipo de desempenho que dele se espera, do que ele sabe e é capaz de fazer no quadro das competências para que foi preparado e das respostas emergentes aos desafios laborais (p. 8). Para Noguero e Solís (2003) o objetivo final das ações do educador social é conseguir a participação de todos os membros do grupo com o fim de transformar a realidade. (…) supõe a criação de um processo de ensino – aprendizagem de uma série de valores, atitudes e estratégias que estejam de acordo com o espírito crítico, a participação ativa, a transformação social, etc. (p.6). Ao procurar consolidar e renovar as redes sociais já existentes, pode, também, criar novas redes de espaços de pertença e referência afetiva, atuando de forma direta, mas sem tomar partido ou dar a solução. Deve escutar, estar atento, conduzir as respostas dos verdadeiros protagonistas, criando, no dizer de Carvalho e Baptista (2004), a chamada distância óptima, que conjuga racionalidade com sensibilidade e serenidade (p. 93). Na criação de pontes entre o indivíduo, a família, as instituições e a sociedade em geral, em áreas que vão desde lares da terceira idade, às escolas, prisões, hospitais e autarquias, ele desempenha o papel de um interlocutor privilegiado, apontando caminhos para a solução de problemas vividos e sentidos nos contextos em que intervém. 



Para Noguero e Solís (2003) o educador social marca a forma de trabalho no grupo, proporcionando ferramentas necessárias (atitudes, valores, capacidades, motivação, etc.) para que a autonomia do mesmo cresça progressivamente (…) (p. 7). A sua figura tem um caráter “eventual” no tempo de vida do grupo com o qual trabalha e, por conseguinte, trata de facilitar em todo o momento que o grupo aprenda e adquira os meios necessários para uma autogestão individual e coletiva (p. 7). Carvalho e Baptista (2004) referem quão difícil é conciliar num mesmo ator o desempenho simultâneo de papéis, pois consideram o educador social como um prático, porque é pragmático e concreto, como um militante, dado ser um idealista que luta pelas suas convicções e como um especialista, porque é um prospetivo que balança entre o militante e o prático (p. 84). Esta relação não pode ser conflitual, mas complementar. Além de tutor é também um mentor, companheiro que assegurará um desenvolvimento harmonioso de uma identidade pessoal e profissional com base na maturação decorrente de um autêntico encaminhamento identitário (p. 87), ouvinte, conselheiro, disponível, dialogante, amigo institucional. Referem-no, ainda, como um actor social, porque vive a complexidade da vida em sociedade, enquanto protagonista de um determinado contexto social e histórico-geográfico, como um educador porque procura viabilizar a escolha dos seus projetos, como um mediador social, porque resulta da dinâmica entre o ator e o educador, presente e distante, empreendedor, gestor de conflitos interpessoais e intergrupais, que, sem serem tomados como indivíduos providenciais, ajudam a procurar caminhos pessoais, promovendo a capacidade de decisão e de participação dos indivíduos ao mesmo tempo que são integrados em redes sociais que possam apoiar o processo de reconstrução das respectivas identidades (p. 92).


 Os educadores são, (…) promotores privilegiados da condição humana e é nesse sentido, justamente, que são reconhecidos como técnicos da relação, o que torna esse seu carácter técnico irredutível a qualquer lógica instrumental. Enquadrada por uma perspectiva pedagógica, a relação humana surge-nos sempre mais do que uma simples ferramenta (Carvalho e Baptista, 2004, pp. 95-96). 
O educador social é tido como uma referência, pois não está em causa apenas o saber mas o próprio educador como pessoa, com os seus medos, as suas angústias, as suas incertezas, as  suas dúvidas, as suas convicções, as suas verdades e os seus sonhos e é esta amálgama de sentimentos que lhe confere um papel determinante em todo o processo pedagógico. A sua intervenção acontece num espaço pedagógico subjetivo que o compromete com a promoção da cidadania e se pauta por valores éticos, enfrentando situações profissionais de conflito ou de dilema, sempre analisados numa atitude reflexiva. Não se pode escamotear que o papel do educador social tem sido objeto de auto e heterorreflexão que passa por um(a): - processo lento e recente da configuração profissional das incumbências; - dificuldade na partilha de funções com outras profissões da mesma área; já existentes ou apenas emergentes; - reservas quanto ao esboço de acções sistemáticas em prol de uma intervenção educativa não escolar; - peso de uma tradição voluntarista e benévola, entretanto, em crise; - instabilidade epistemológica no terreno da fundamentação científica dos respectivos saberes e práticas (Carvalho e Baptista, 2004, p. 85). A sua atuação assenta em modelos e princípios que evoluem com o tempo. Carvalho e Baptista (2004) falam-nos do modelo tutelar, do período caritativo, até 1965, que coloca o amor pelo outro como determinante na educação, sendo o educador uma figura familiar com autoridade e com sérios riscos de criar uma dependência, do modelo técnico, do período científico de 1965 a 1990, que apela ao rigor científico porque tem em conta a subjetividade do modelo anterior e o modelo reflexivo, a partir de 1990, em que o educador problematiza a complexa realidade das situações, impondo-se de forma autónoma e responsável, de acordo com os problemas que se lhe deparam (p. 103). Mas, em todos os momentos, é preciso respeitar os outros aplicando, no dizer de Carvalho e Baptista (2004), os princípios da liberdade, para nós e para os outros, da emancipação, atuando com independência, da verdade, cultivando a verdade e a autenticidade do valor da vida na relação com os outros, do autodesenvolvimento, onde o bem - estar físico, mental e social de todos é fundamental e da privacidade no respeito pela integridade do ser humano (p. 103). 


Carvalho, A. D e Baptista, I. (2004). Educação Social – Fundamentos e estratégias. Porto: Porto Editora. Carneiro, R. (2000). |O Futuro da Educação em Portugal. Rendências e Oportunidades. Lisboa: Ministério da Educação. Borda Cardoso, A. M. A. S. (s/d). Alguns desafios que se colocam à Educação Social. Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti. repositorio. esepf.pt/bitstream/handle/…/Cad_3Educacaosocial.pdf?. (Acedido em 2 de Outubro de 2011). Bottega, C. G. e Melro, A. R. C. (2010). Prazer e sofrimento no trabalho dos educadores sociais com adolescentes em situação de rua. Cadernos de Psicologia Social e do Trabalho, 13 (2), 259-275. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516- 37172010000200008&lng=pt&nrm=iso (Acedido em 16 de Outubro de 2011). Diaz, Soriano (2006). Uma Aproximação à Pedagogia - Educação Social Revista Lusófona de Educação, 7, 91-100. www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/rle/n7a 06.pdf. (Acedido em 12 de Outubro de 2011). Gerson, Heidrich da Silva (2009). Educador social: uma identidade a caminho da profissionalização? Educação e Pesquisa, São Paulo, v.35, n.3, p. 479-493, http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=29812452005. (Acedido em 2 de Outubro de 2011).